O Programa Saúde, Bem-estar e Medicina Integrativa recebe Heitor Silva.

Nesta quinta-feira, dia 10 de outubro às 14h, entrevistaremos Heitor Silva um competente economista e doutor em Planejamento Urbano, e que em vários momentos colaborou com a Taba TV nos ajudando a interpretar a linguagem do economês para os leigos, evitando que se tornem, presas fáceis nas mãos dos podres poderes. Desta vez como pesquisador bolsista da FIOCRUZ, vai contribuir no debate sobre a Instituição de prestígio internacional, além de nos trazer os resultados dos seus estudos sobre os efeitos da violência armada no âmbito da Saúde e Educação.

 

FIO CRUZ

Qualquer pessoa no Brasil que queira discutir questões de Saúde Pública e da medicina preventiva deve ter a preocupação de voltar seu olhar para uma Instituição Nacional criada no início do século XX e mais conhecida como Fio Cruz. Ela pode ser definida como um paradigma de ação e conhecimento na área da pesquisa científica incluindo a medicina experimental, a biologia, patologia e o aperfeiçoamento de pesquisas e fabricação de remédios, fármacos e vacinas, melhorando a qualidade de vida e a saúde, tanto da nossa população como da população do mundo. Seja dito de passagem que ao promover a pesquisa, o ensino e o desenvolvimento tecnológico, estende sua ação na preservação do meio ambiente e na biodiversidade. Com 124 anos, ou seja, em quase um século e 1/4 de existência permitiu que o país apesar de todos os seus problemas na área socioeconômica, garantisse um lugar de destaque no rol das Nações desenvolvidas pelo menos como pioneira na área da saúde e da ciência pelo seu papel inovador, atendendo o tempo todo o desafio de responder às aceleradas conquistas tecnológicas nessa área. Sim, é só não nos esquecermos qual era a média de vida da população mundial até a 1ª metade do século passado de 46, 8 anos, ou seja, nem chegava aos 47 anos.

A Fundação Oswaldo Cruz já inaugura seus trabalhos em maio de 1900 com a presença do médico auxiliar Oswaldo Cruz que mais tarde vai se projetar como grande liderança. Nesse momento os problemas não eram poucos pois, deviam enfrentar não só a peste bubônica como a febre amarela e a varíola. Derrotar 3 epidemias ao mesmo tempo, que assolavam o Rio a capital do país, vamos combinar, não foi tarefa fácil. E por que essa incidência de doenças graves que dizimavam a população carioca? Eram consequência das condições de higiene e saneamento com muitos cortiços e ruelas num crescimento ao mesmo tempo acelerado, desordenado, caótico enfim, sem o mínimo de planejamento urbano, sem água e esgoto devidamente canalizado etc. É evidente que houve um trabalho de equipe para a execução de uma ampla reforma urbana liderada pelo Prefeito o Engo Pereira Passos nomeado pelo Presidente da República Rodrigues Alves. E assim, essa ação conjunta logrou pleno êxito.

Outro médico que também ficou conhecido neste período foi Carlos Chagas. Ambos fizeram medicina no Rio de Janeiro, Oswaldo se especializa depois em Cursos de microbiologia, soroterapia e imunologia no Instituto Pasteur na França, e Chagas na UFRJ teve como tese a doença Malária através de “Estudos Hematológicos dentro do impaludismo” que depois vem dar nome a chamada “Doença de Chagas” oficialmente chamada “tripanossomíase americana”.

Quando se fala em Fio Cruz nos vem à mente a imagem de um Castelo bem diferente e nunca visto no Brasil pois seu estilo é “neomourisco” e, foi idealizado por Oswaldo Cruz se inspirando no Instituto Pasteur na França onde havia feito seus Cursos de Especialização. Foi projetado e construído pelo arquiteto português Luiz Moraes Júnior entre 1905 e 1918 ou seja durante 13 anos. O Castelo da Fio Cruz portanto, foi inspirado na arte hispana-muçulmana, com azulejos portugueses, mosaicos em tapeçaria árabe. Destaque para a cúpula feita em cobre e com desenho octogonal. Uma raridade dessa em solo brasileiro havia de ser preservada e isso ocorreu em 1981 quando foi tombado pelo Instituto o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

A Fio Cruz iniciou suas atividades no Rio de Janeiro, mas hoje pode-se dizer, que tenha uma abrangência nacional com 10 unidades e escritórios em Estados que estrategicamente abarcam todas as regiões brasileiras. No Norte = Amazonas e Rondônia; No Sul= Paraná; No Nordeste = Pernambuco, Ceará, Bahia, Piauí; Centro-oeste = Mato Grosso do Sul, Distrito Federal; Sudeste = Minas Gerais. E por incrível que pareça estende-se até a África em Moçambique na sua capital Maputo.

Voltando ao Estado de origem, concentra no Rio de Janeiro 11 unidades técnico científicas começando com a Casa Oswaldo Cruz ; a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca ; a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio(ESPJV); o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT); O Instituto de tecnologia em fármacos (Farmanguinhos); Instituto de Tecnologia em Imunológicos (Biomanguinhos); Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS); Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (IND) Instituto Nacional de Saúde, da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF) e finalmente o Instituto Oswaldo Cruz .

 

A Casa de Oswaldo Cruz é uma espécie de Museu e abriga a memória e a identidade de todo o percurso dessa grande aventura em mais de um século vivida por um staff de 1ª linha não só pelo preparo, conhecimento, criatividade, mas o entusiasmo e a vontade de resolver os problemas do Brasil e do mundo. A partir do estudo, da pesquisa, da experimentação em todos os níveis agenciam um trabalho feito com disposição, coragem e destemor. Essa equipe brilhante cujos nomes não devem estar só em placas, mas na memória dos brasileiros e por isso deveriam ser citados e cantados em verso e prosa. São eles: Oswaldo Cruz e o seu Lar acolhedor, Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Leônidas e Maria Deane, Herman Lent, Oraci Nogueira, Virginia Portocarrero entre outros protagonistas presentes no espaço onde se encontra o maior acervo de História das Ciências e da Saúde da América Latina.

Se a nível nacional o respeito e a admiração ainda carece de grandes homenagens e orgulho, como quando ganhamos uma Copa do Mundo, a repercussão no exterior é de maior monta, haja visto os prêmios que a Entidade recebeu ao longo do século XXI, vindo de outros países: em 2006 o Prêmio Mundial de Excelência em Saúde Pública concedido pela mais importante Instituição de Saúde Pública do Planeta que é a Federação Mundial de Associações de Saúde Pública. O grande feito foi o sequenciamento do genoma da vacina BCG. Em 2007 A Vacina contra a miningite meningocócica A e C, produzida em Bio-Manguinhos, é pré-qualificada pela OMS para fornecimento às agências das Nações Unidas. O Arquivo Oswaldo Cruz é reconhecido como acervo de relevância nacional pelo Programa Memória do Mundo, da UNESCO. Nesse mesmo ano inaugurou em Luanda capital de Angola o seu primeiro mestrado no exterior- em saúde pública. Dois anos depois, forma a 1ª turma de pós-graduação em Moçambique, amplia o Convênio com o Instituto Pasteur na França e inicia novos acordos com os EEUU, China e Argentina entre outros países. A consolidação internacional são expressões da ampliação do papel estratégico da Instituição. A grande conquista foi o reconhecimento ao Centro de Referência para Bancos de Leite do IFF/Fio Cruz que recebeu em Washington, prêmio da OMS e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) durante a II Exposição Global de Desenvolvimento Sul-Sul. Em 2011 a Fio Cruz desenvolve um método que permite diagnosticar o HIV em 20m. Avanços importantes na criação de uma nova vacina contra a Febre Amarela, e a produção do Atazavit, presente no coquetel antiaids. Um ano depois a fábrica em Moçambique entrega os primeiros antiretrovirais, o antimalárico criado no Brasil que se torna referência mundial a partir da certificação da OMS. E mais, conclui a 1ª fase de testes da vacina contra a esquistossomose desenvolvida e patenteada pela Fio Cruz. Nesse diapasão, conquistando em produção e inovação, novos acordos de transferência de tecnologia e cooperação internacional foram assinados e ao fim e ao cabo teve parte de seu material histórico com fotos etc., desde o início de sua criação considerado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade.

A cada ano a presença da Fio Cruz cresce e se espraia por todo o país não só em números como na organização dos núcleos de pesquisa e produção como também no Ensino voltado tanto para a formação acadêmica sempre de excelente qualidade e na formação de técnicos de nível médio etc. As vacinas e os remédios visam fortalecer e consolidar o Sistema Único de Saúde e sua política pública de atenção à saúde e com isso diminuir as desigualdades sociais relacionadas a esta área. Para finalizar vamos falar mais um pouco sobre o último enfrentamento da Instituição durante a pandemia do CORONA VIRUS OU COVID 19. Esse é um capítulo que exigiria a publicação de um Livro por envolver uma complexa rede de trabalho e planejamento em equipe nos diferentes locais como laboratórios pesquisando as vacinas, nas unidades de saúde, nas comunidades. Foi um desafio inigualável que logrou êxito em função das habilidades consolidadas neste século e pouco de trabalho sistemático. Durante o período, foi organizado o “Observatório Covid-19 que realizava todo o tempo uma série de levantamentos orientados para públicos específicos. Deste modo eram mapeadas as medidas de controle e prevenção adotadas em instalações de saúde para detectar com clareza as condições de trabalho, a situação de saúde dos agentes comunitários de saúde, cuidadores de idosos, enfermeiros, médicos etc. Os profissionais da área de saúde na linha de frente faziam parte de um grupo de alto risco de infecção e que exigiu durante o processo um acompanhamento e a manutenção de cuidados redobrados. Daí a adoção de medidas de segurança a ser adotadas no processo de trabalho e a organização do estabelecimento de saúde em relação à oferta de equipamentos e insumos, limpeza e desinfecção dos ambientes, bem como indicadores de capacitação e acompanhamento dos seus funcionários. Quis dar ênfase a essa questão porque um batalhão preparado para salvar vidas atacados por inimigos invisíveis, deve ter a sua retaguarda resguardada com muito mais competência e cuidados.

Finalizando essa rápida abordagem da Fio Cruz enquanto Instituição exemplar queremos destacar a sua preocupação em divulgar suas atividades ao conjunto da população brasileira. Assim foi organizado o Canal Saúde em 1994 gerido pela Fundação e disponível que merece, entretanto ser mais divulgado em todo o Brasil.

Niterói, 08 de outubro de 2024

Material oficial consultado foi resumido, reinterpretado e enfatizado por Helena Reis nos aspectos que julgou pertinente. Uma Instituição tão proativa quanto esta, mereceria estar muito mais no foco da mídia oficial.  Exatamente por isso, logo abaixo postamos um vídeo maravilhoso feito pelo Canal Saúde e que vocês não podem deixar de assistir.