O Programa Falou e Disse recebe Beatriz Bíssio.

REVISTA CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO / 50 anos

A revista através da ativa liderança de BEATRIZ BÍSSIO planejou comemorar o seu meio século de lançamento ocorrido em 1974 na Argentina, promovendo nesse mês de outubro um encontro dos profissionais que não só fundaram como atuaram na revista ao longo de 30 anos. Não se trata porém de um mero revival, o objetivo é jogar  foco num determinado período histórico e debater em profundidade qual foi o legado da REVISTA enquanto pioneira de um jornalismo não só contra hegemônico mas, que preconizava uma postura ativa a favor de outra Nova Ordem Informativa Internacional como instrumento de cooperação Sul-Sul. É uma Revista inédita não só pela abrangência das narrativas mas por haver atingido um público base em 3 Continentes: Ásia, África, América Latina, espraiando-se em seu entorno, com uma tiragem super expressiva de mais de 120 000 exemplares e editada em 3 idiomas: espanhol, português e inglês.

 

 

 

 

 

 

Daí ter sido planejado um ENCONTRO de 4 dias reunindo a antiga equipe formada não só de jornalistas, mas também de pesquisadores nas áreas de história, relações internacionais, economia e comunicação e, convocando estudantes em vários níveis, universitários em diferentes estágios e todos os interessados no tema a virem esquentar o debate.

A revista foi fundada em setembro de 1974 em Buenos Aires sob a coordenação de Neiva Moreira, Beatriz Bíssio e Pablo Piacentini. Com o Golpe de Estado na Argentina, o casal Neiva+Beatriz se exila no Peru e em seguida no México. Na cidade do México em 1978, a Revista é relançada com a ampliação de sua equipe de colaboradores e também da tiragem que sofre efeito multiplicador. Logo a seguir surgem edições em inglês como estratégia para atingir países transcontinentais como África, Ásia e até a América. Em 1978 já é tempo de tiragens em português e a Revista é relançada em países da África e em Portugal. Lisboa dessa vez, passa a ser nosso porto seguro. Esse foi o momento áureo da Revista pois além de circular em 3 línguas, atingiu um público de 4 Continentes incluindo a Europa e, com distribuição em bancas, livrarias e assinaturas. A vinda para o Brasil só ocorre em 1980 com a queda do regime militar. Finalmente em solo pátrio os Cadernos passam a ter sede no Rio de Janeiro onde atuaram até 2005.

A publicação então surgiu como consequência direta do exílio não só da dupla, mas, de milhares de lideranças políticas, sindicais, militantes de várias ideologias e origens ao longo de um processo cíclico de ditaduras. Os Cadernos passam a ser, portanto, um instrumento de resistência aos regimes de exceção e, evidentemente contaram com a participação desses exilados. Daí a Revista se dedicar cada vez mais a cobrir matérias e notícias que tinham a ver com o processo de emancipação, soberania ou desenvolvimento autônomo dos países da África, Ásia, América Latina e Caribe, Oriente Médio e Oceania ou seja os ditos países do 3º Mundo hoje também conhecidos como SUL GLOBAL. Nos seus 30 anos de atuação cobriu uma parte muito importante da história de toda essa região, principalmente ligadas aos movimentos de libertação colonial ou seja a descolonização da África e também pari e passo às lutas de redemocratização em vários países da América Latina como o Chile, Argentina e Brasil. Por isso a Revista é mais do que uma referência, na verdade um símbolo de emancipação e libertação dos povos oprimidos do planeta e como tal herdeira também da experiência acumulada pelo Movimento dos Países Não Alinhados quando na década de 70 e particularmente em 1973 lançaram duas ideias impactantes na Reunião de Cúpula em Argel o debate sobre a chamada (NOEI) ou seja a necessidade de implementar uma Nova Ordem Econômica Internacional e a (NOII) a “Nova Ordem de Informação Internacional que defendia a democratização dos meios de Comunicação para o Desenvolvimento dos Países Periféricos.

Cumpre destacar as importantes e raras entrevistas com Líderes dos países SUL-SUL os quais eram quase sempre preteridos, nunca sendo contemplados pela mídia hegemônica. A lista é grande: NELSON MANDELA (África do Sul) FIDEL CASTRO (Cuba); NASSER ARAFAT (Egito); MUAMMARR GADDAFI (Líbia); AGOSTINHO NETO e JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS (Angola); SAMORA MACHEL (Moçambique); XANANA GUSMÃO (Timor Leste); JOAQUIM CHISANO (Moçambique); JOSÉ RAMOS HORTA (Timor Leste); ROBERTO MUGABE (Zimbábue); JULIUS NYERERE (Tanzânia); RAUL AFONSIN (Argentina); REI HUSSEIN (Jordânia); DANIEL ORTEGA (Nicarágua); PAZ ZAMORA (Bolívia); RIGOBERTA MENCHU (Guatemala); EDUARDO GALEANO (Uruguai); MÁRIO BENEDETTI (Uruguai) e MERCEDES SOSA (Argentina).

Depois de 2005 quando os Cadernos fecham as portas seu acervo está ganhando cada vez mais atualidade pela parceria Interinstitucional importante pois não só o mantém como o tem como rico solo de pesquisa em termos de memória. Então foi construído o Núcleo interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e Relações Sul-Sul do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o Laboratório de Pesquisas e Práticas do Ensino de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do R.J. e o Núcleo de Estudos da Hist. Polít. da A. Latina e vinculado ao I. Multidisciplinar da U.F. Rural do R.J. para a digitalização de todo o acervo. LINK: http://repositorio.im.ufrrj.br:8080/jspui/hand

Veja o programa do encontro clicando na imagem abaixo: Terceiro_Mundo_programa

 

Niterói, 21 de outubro de 2024.

Helena Reis

Fontes Consultadas: Cadernos do Terceiro Mundo; Centro Celso Furtado; UFFRRJ.