O Programa Falou e Disse recebe Adhemar Mineiro.
A CORPORAÇÃO TRANSNACIONAL FINANCEIRIZADA
Adhemar S. Mineiro
Desde a década de 80 do século XX, vivemos um período de enormes mudanças estruturais na essência do capitalismo internacional em relação ao sistema econômico mundial e em outras múltiplas áreas.
Vamos focar nas Empresas transnacionais de grande porte onde 3 elementos chamam atenção:
1 – O uso de um conjunto de novas tecnologias de informação, comunicação, miniaturização, transporte, repartição de processos produtivos, gestão e outras. Tudo isso se fez disponível às empresas através de operações globais, permitindo que maximizassem o uso de suas vantagens de localização. Ressalto que nesse momento, essas empresas já vinham se reestruturando para expandir suas operações pelo mundo afora e, é claro, quando viu o momento propício apoiou com avidez a expansão do clima reinante de “livre comércio” onde a implantação da OMC na década de 90, favorecia os arranjos que se seguiram em todos os sentidos. E foi no bojo dos chamados Tratados ou Arranjos de Livre Comércio que a ideia floresceu e ganhou força. E qual era a celeuma ou o ponto nevrálgico anterior? A resposta é o custo. A questão essencial era evitar a acumulação dos custos tarifários. Era essencial portanto, reestruturar o sistema econômico produtivo, em âmbito internacional, de modo que ao cruzar fronteiras não sofresse nenhum impacto nos preços. Ou seja, liberar as fronteiras, eis a questão! Assim ocorre uma profunda reestruturação do sistema econômico em âmbito internacional, influenciado também por uma enorme concentração de capital. Como consequência, hoje um número muito pequeno de Empresas gigantescas controla quase todos os setores econômicos. É errônea, portanto, a ideia de “alguns”, de que a mudança tecnológica e a reestruturação produtiva, abriram espaço para uma eventual pulverização do capital e uma multiplicação de Empresas tornando mais competitiva as estruturas de produção e consumo. Dentro dessa mesma visão, acredita- se que um pequeno grupo de grandes investidores, progressivamente, tomou o controle operacional e o poder nos Órgãos decisórios das Empresas. O trabalho de identificação dos grupos financeiros (grandes bancos comerciais ou de investimento, fundos de investimento privados, fundos soberanos e fundos de pensão) que assumem o poder sobre as empresas e a sua densa e intrincada rede de comunicações dá nomes ao poder de fato dos aplicadores financeiros e explica mais de perto o que é o processo de financeirização das empresas, em especial as grandes corporações transnacionais que controlam circuitos mundiais.
Essa nova dominação dos círculos financeiros sobre a produção, introduziu progressivamente ao núcleo operacional produtivo, os conceitos hegemônicos dos mercados financeiros: a luta permanente por lucro, liquidez e segurança. As consequências foi o início de maior volatilidade e especulação, os mercados financeiros desenvolvendo cada vez mais com consequente liberalização financeira apoiada agora pela desregulamentação do setor e isto no mundo inteiro.
E como essa discussão aparentemente teórica e abstrata atinge nossa vida quotidiana? De várias formas, e a mais óbvia, é que as crises financeiras locais que deveriam estar circunscritas a países ou mercados, contagiam e se espalham rapidamente pelo mundo atingindo indiscriminadamente países e mercados, teoricamente sem nenhuma ligação com o evento. Vejam o exemplo do que ocorreu em 2007/2008, que atingiu as aposentadorias de várias categorias nos EUA, com seus fundos de pensão abatido pela crise de derivativos, provocando drástica redução das aposentadorias e pensões, em alguns casos a um quarto do valor.
Em um lapso de tempo, simples investimentos a curto prazo diríamos viraram projetos financeiros em busca de valorização e em consequência, como em qualquer Cassino, sujeito a chuvas e tempestades ou por outra, à perdas e ganhos de grande magnitude.
Até a defesa da causa ambiental vira para os jogadores novos negócios no mercado do carbono, ou seja, nova forma de financeirização.
A questão trabalhista sofre os efeitos da nova mentalidade reinante. Quando se defende a flexibilização do trabalho, o que se quer em última instância, é atender os interesses das corporações financeirizadas e pouco preocupadas em promover a segurança funcional de sua própria equipe. Uma remuneração variável, trabalhos flexíveis acabam por transformar o trabalhador em sócio das crises. Será mero acaso que esse processo de discussão trabalhista tenha migrado do seu Ministério de origem o do Trabalho para o Ministério da Fazenda? Coincidência ou clara intenção.
Estudos divulgados na grande imprensa, dá conta de que 10 empresas financiaram 70% dos parlamentares eleitos. Dessas empresas, encontramos as nossas nacionais junto com corporações transnacionais financeirizadas como: JBS (carnes junto com participação de fundos de pensão e do BNDES-PAR); mais cinco ligadas à construção civil: (OAS, Andrade Gutierrez, Odebrecht, UTC e Queiróz Galvão), os 2 grandes Bancos (Bradesco e Itaú), a Vale do Rio Doce, também controlada pelo BNDESPAR, fundos de pensão e o grupo Ambev (poderosíssimo e diversificado grupo financeiro de base nacional operando em escala mundial) mais de 2/3 do Congresso, maioria qualificada e capaz de mudar o governo e alterar a Constituição. E todos sabem que não estamos falando aqui em possibilidades abstratas.
Há na verdade no mundo todo, um novo ator, “meio invisível” que vem controlando a vida e a política dos países e dando as cartas. Enquanto não encontrarmos uma forma de controle tanto aqui como lá fora, estaremos submetidos e sem soberania. O poder corporativo, hoje em escala mundial, é o grande nó que impede o exercício da democracia.
1 – Esse artigo escrito por Adhemar Mineiro para o Jornal dos Economistas órgão oficial do Corecon e Sindecon em novembro de 2017, sofreu ligeiras modificações de redação afim de ficar mais compreensível para os leigos no tema.
