O Programa Falou e Disse recebe Sérgio Granja.

Sérgio Granja, carioca, graduado em Ciências Sociais- EHESS, Paris (1976/1979) mestre em Literatura Brasileira e autor de livros como Louco d’Aldeia e colaborador do site “Contrapoder“ onde aborda temas políticos, históricos e literários e frequentemente sob uma perspectiva marxista. Foi militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) e exilado político na época da ditadura militar.

Hoje, Granja ocupa lugar relevante no estudo da literatura brasileira contemporânea, particularmente no estilo crônica, trabalhando um mix de temas através de ensaios onde mescla a ficção com realidade indo da sátira ao sério debate político ou além dos discursos literários.

Na última 6ª feira dia 17 fomos convidadas a participar do lançamento do seu novo Livro “Contra a Corrente” na Livraria Leonardo Da Vinci seguido de um debate de alto nível sobre a problemática ali inserida. Não saindo do seu estilo e proposta, o Livro contém uma série de artigos que analisam a conjuntura brasileira em múltiplos momentos sob o viés político, econômico-financeiro, mas, fazendo um contraponto com diversas questões teóricas e práticas de inúmeros pensadores marxistas assim como: Rosa de Luxemburgo, Lenin, Gramsci, Trotsky, István Mézzares, Lukács.

No prefácio escrito por Plínio de Arruda Sampaio Júnior ele enfatiza a proposta de Granja de defender com urgência a reorganização das forças políticas comprometidas com a superação do capitalismo. E através de qual fio condutor? A busca de uma práxis revolucionária que se contraponha ao trabalho de Sísifo de mitigar as mazelas do capitalismo e à ortodoxia estéril de organizações sectárias que se autoproclamam a vanguarda do proletariado. No mundo polarizado é urgente criar organizações políticas à altura das novas exigências da luta de classe. Citando Sísifo temos de nos reportar a Lenda Grega que conta a história do esperto Rei de Corinto que pretendeu enganar os deuses e acabou sendo condenado por Zeus, e, como punição teve de empurrar, eternamente, uma pedra montanha acima e, que sempre rolava de volta. Usando essa analogia, hoje, reiteradamente, aceitamos as mazelas proporcionadas pelo capitalismo que vai do teto ao chão, ao pão, à dor, à morte, num castigo sem fim. E Granja nos traz escritos de Marx sobre as “11 Teses de Feurbach” e, em uma delas uma frase importante: “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras, mas o que importa é transformá-lo”. Proclama-se aqui o primado da “praxis”, da atividade humana como unidade entre teoria e prática, ou seja, a prova de um pensamento vinculado a ação.

Meu grande interesse centrou-se nas análises do momento de implantação da chamada globalização seguida de uma ideologia conhecida como neoliberalismo. A globalização teve início a partir da 2ª metade do século XX e que se traduz na integração das economias e das sociedades dos vários países e principalmente nos setores de produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros e à difusão de informações. Daí foi um passo para a integração cada vez maior das Empresas Transnacionais num contexto mundial de livre comércio, ou seja, com liberdade, fora de regulações e com apoio de organismos internacionais como o FMI e a OMC a exercer pressão política e econômica no sentido de renúncia às barreiras protecionistas. Isso tudo sob a liderança americana. Claro que a conjuntura daquele momento com a queda da URSS era extremamente favorável.

Neoliberalismo – Podemos identificá-lo como o desmonte do Estado e com ele a prestação de serviços públicos e proteção social; a desregulamentação do mercado, a retirada de barreiras protecionistas, a precarização das relações trabalhistas e do emprego e a privatização de Empresas de base que garantiam não só a soberania dos países como a continuidade dos seus processos de desenvolvimento. A implantação desse modelo teve início no Chile de Pinochet (19973/1990) e na Inglaterra de Margareth Thatcher (1979/1990). No Brasil começa no Governo Collor, mas atinge o seu apogeu no período FHC (1995-2002) tem continuidade tanto no Governo Lula (2003-2010) quanto no Governo Dilma (2011/2016) de forma evidentemente um tanto disfarçada, sem os estragos iniciais já implantados e consolidados, mas jamais revertidos, seja dito de passagem. É evidente que não foi abrandada e sim acirrada nos Governos posteriores. Quais as consequências nefastas: desemprego, exclusão social, apelo ao consumo, sociedade atomizada e individualista, degradação das relações, violência e barbárie e eu acrescentaria a perda da “soberania” e um retrocesso econômico inimaginável com a desindustrialização e expansão do agronegócio trazendo consequências funestas ao meio ambiente. Como o autor escreve artigos falando de temas que perpassam diferentes momentos históricos com suas inexoráveis transformações fazemos uma viagem abarcando suas linhas gerais e, nem assim sentindo superficialidade no enfoque.

Daí, é compreensível que o leitor mergulhe em alguns artigos mais instigantes que outros e descubra pensadores menos conhecidos no Brasil como István Meszáro um filósofo Húngaro, marxista nascido na cidade de Budapeste na Hungria. E, para minha surpresa suas teses são muito polêmicas e entre elas ressalto a avaliação que faz entre monetarismo e Keynesianismo como duas faces da mesma moeda e não polaridades opostas. Acredito que o autor também revela surpresa ao dizer: “De fato, por muito tempo, cada variedade de keynesianismo foi uma aventura quixotesca que carregava dentro de si o seu Sancho Pança friedmanesco – fase ‘stop’ de sua política semafórica de ‘stop go’ -e vice-versa. Taí uma questão para ser esclarecida durante a entrevista, pois confesso que não consegui traduzir com clareza toda a questão a não ser que pedisse ajuda ao meu amigo Belluzzo. Para concluir vou direto ao fim onde encontrei um debate entre Granja e Carlos Nelson Coutinho seu entrevistado. Eles discutem muito a conjuntura usando o pensamento de Gramsci em questões controversas. Mas, ao invés de explorar o todo, vou aos finalmentes ou no encerramento da entrevista quando Sérgio pede ao Coutinho para fazer uma avaliação do quadro brasileiro hoje e da política necessária que a esquerda deveria encaminhar para a situação que estamos vivendo pensando na crise do neoliberalismo. Resposta de Nelson Coutinho; “Se eu soubesse isso, eu estava bem. “O que fazer”? Lênin perguntou e respondeu. Eu não tenho condições de fazê-lo. Mas acho que nós vivemos no Brasil, como no mundo, um período muito difícil para esquerda. Eu diria o seguinte: a ascensão do PT ao governo, os dois governos Lula foram trágicos para a esquerda. A ditadura nos reprimiu, nos prendeu, nos torturou, obrigou muitos ao exílio, mas não desmoralizou a esquerda. Essa foi só o início da fala de Coutinho e quem tiver interesse em saber tudo pode participar da entrevista e perguntar direto ao Granja, ou ler o Livro.

Niterói, 19 de outubro de 2025.

Helena Reis