O Programa Falou e Disse recebe Virgínia Carvalho.

Virgínia Martins Carvalho pesquisa o que o sistema teme: uma planta que, se legalizada, desmonta negócios muito mais lucrativos que a ciência. Pesquisa cujo efeito colateral é poderoso: ela ilumina aquilo que muita gente prefere manter na sombra.

 

Hoje vamos falar da Cannabis Medicinal, e chamar atenção daquilo que nunca aparece no debate: os interesses ocultos que mantém essa planta na ilegalidade aqui no Brasil e que vai na contramão do mundo. Porque a verdade é simples – e dura: a proibição não serve à saúde. Serve a negócios que vivem da ilegalidade. A PROIBIÇÃO CRIA O CRIME e o CRIME agradece a PROIBIÇÃO. Quem lucra com a ilegalidade? A quem interessa manter o crime vivo? A contravenção alimenta as máquinas política, policial e financeira e, esse núcleo de poder ninguém ousa tocar. A ilegalidade é um negócio bilionário. Lucra quem controla territórios. E onde tem muito dinheiro, tem muita gente querendo que tudo continue como está. A interdição cria crime. A regulação cria cuidado. Enquanto famílias gastam fortunas importando remédios, enquanto pacientes sofrem, enquanto a polícia ocupa favelas em nome de uma guerra perdida, muita gente poderosa lucra com o caos. Então prestem atenção a essa afirmativa: A ILEGALIDADE NÃO É UM ERRO, NÃO É MERO ACASO, E SIM UM PROJETO DE PODER.

Nessa 3ª feira através do programa “Falou e Disse” recebo a Professora Virgínia, pesquisadora da UFRJ, uma das vozes que ousam desvendar esse véu. Ela estuda a planta Cannabis mas, o que seu trabalho revela, vai muito além da pesquisa técnica. Mostra que o rei está nu. E ao mexer em vespeiro, estruturas políticas, desigualdades e interesses que nunca vem à tona, pois estão sempre ocultos nos bastidores servindo a interesses escusos, de repente ganham foco. Vamos ter coragem de anunciar que quando a Ciência avança a mentira tem de recuar.

“A pesquisa de Virgínia é a prova viva de que o Brasil tem Ciência de ponta. Só falta ter coragem política para acompanhá-la”. Ela planta ciência onde o Brasil plantou tabu. Ela representa a universidade pública na sua melhor versão: rigorosa, ousada e comprometida com a vida. Além de enfrentar a complexidade da ciência fica perplexa com o atraso das políticas públicas. Pesquisa o que o sistema teme: uma planta que, se legalizada, irá desmontar negócios muito mais lucrativos do que a ciência. O efeito colateral dessa pesquisa é muito poderoso e vai iluminar aquilo que muita gente prefere manter na sombra. Então, vamos combinar, que esse debate está longe de ser apenas medicinal e científico. Ele é acima de tudo político, econômico e social. É preciso ter claro que a manutenção da proibição do uso da cannabis vulgarmente conhecida como maconha por décadas e décadas, atende a interesses estruturais que vão desde a organização de grupos econômicos clandestinos até as engrenagens estatais que se beneficiam da permanência da ilegalidade. E nesse contexto, a pesquisa científica não deixa de ser um ato de enfrentamento. Quem viaja pelo mundo sabe que lá fora-EUA, Europa- tem loja de Cannabis em cada esquina, com nota fiscal, balcão e até cartão fidelidade. E aqui no Brasil? A única coisa que cresce em cada esquina é o lucro do crime. Mas sim, claro, estamos ‘protegendo a saúde’. Os argumentos são os mais hipócritas, falsos e medíocres. Enquanto o Estado proíbe, o crime engorda, o remédio míngua e a Cannabis vira moeda de troca. Enquanto o mundo abre lojas o Brasil abre inquéritos.

Quanto o Brasil já perdeu comprando medicamentos que sabemos fabricar aqui. E até produzimos via pesquisa, mas, sem colocar ao alcance da população, seja através do comércio ou do nosso próprio sistema de saúde como o SUS. Concluindo queremos avaliar o quanto o Brasil já perdeu importando os remédios chamados Cannabidiol ou deixando de produzi-los. O quanto perdeu em vidas defendendo “a interdição, proibição, ilegalidade não importa que nome tenha? E isso em nome do “perigo”, olha a contradição? Quanto o Brasil perdeu em encarceramento? Qual o custo para prender e encarcerar os ditos contraventores? Qual o crime na realidade eles cometeram? E se alguém me disser que a ação da polícia para impedir que a maconha chegue aos usuários é eficaz, necessária e oportuno qual a resposta posso dar? Vamos avaliar o quanto o Brasil perdeu só no século 21 (25 anos) por não legalizar a Cannabis? Muitas décadas antes, já vivíamos as consequências da proibição intencional: uma máquina de encarcerar pobres, uma guerra interminável contra o tráfico, um Estado que gasta fortunas para perseguir uma planta, comunidades devastadas por operações militares, milhares de vidas interrompidas, famílias desfeitas, rebeliões em presídios, facções fortalecidas e a economia ilegal enriquecendo onde o Estado falha. É revoltante pensar que ao mesmo tempo, importamos remédios a preços abusivos. Negamos tratamentos eficazes a quem precisa e deixamos de desenvolver uma cadeia produtiva legítima- agrícola, farmacêutica, industrial e não valorizamos trabalhos de pesquisa como da UFRJ e isso tudo porque optamos por alimentar o crime com a farsa mentirosa da proibição. Gostaríamos de ter uma comprovação estatística de todas essas perdas somadas e do que deixamos de ganhar apostando no potencial de exploração vegetal e técnico científico na produção de fármacos. Claro que o somatório de todas essas perdas é bilionárias não só em dinheiro vivo como em perdas sociais, humanas, tecnológicas etc. o Brasil infelizmente só anda de marcha ré, apesar da primazia de ter as maiores reservas minerais e vegetais do planeta, ao mesmo tempo em que apresenta um dos piores índices de distribuição de renda do mundo. É o país maior exportador agrícola e permite que grande parcela da população lute contra a fome. Então, ignorar o abandono de inúmeras saídas é achar que nosso povo não tem clareza e nem inteligência suficiente para ver quais são as jogadas infames e intencionais.

Niterói, 29 de novembro.

Helena Reis