O Programa Falou e Disse recebe Míriam Andrade.

VAI PRÁ PORTUGAL…

Fico pensando por que uma antiga Colônia, depois de séculos de independência, ainda mantém relações emocionais com sua Metrópole. Quero crer que sejam elos afetivos, mas, na verdade é um somatório de causas que nos ensejam a voltar nosso olhar e desejo ao “inimigo” de outrora. É evidente que estou me referindo a nós mesmos em nossas relações com Portugal. E a primeira pergunta que me vem à tona é: Por que tanto brasileiro, aparentemente do nada, quer fazer as malas e ir morar em Portugal? Um dos argumentos mais fortes se baseia na cultura não só por falarmos o mesmo idioma, mas, mantermos muitas semelhanças na forma de pensar, ser e fazer. Somado a essa premissa, vamos analisar alguns fatores que atraíram os nossos tupiniquins em busca do lar antigo, mas, tomando como marco temporal o final do séc. XX e o boom do século XXI. A partir dos anos 80/90 muitos procuraram uma solução para suas instabilidades e insegurança de vida provocada pela inflação,  crise de desemprego e baixa renda etc. Por ironia do destino acharam um “Porto Seguro” em Portugal, recém ingressado na União Europeia e vivendo a eclosão de um forte crescimento e consequente demanda por mão de obra em inúmeros setores como construção civil, turismo e outros tantos serviços. A partir de 1ª década do século XXI houve não só uma expansão dessa onda imigratória como o incentivo do próprio Governo Português ao criar programas de regularização de imigrantes. Assim, o brasileiro passou a se sentir não só em casa, mas integrado como cidadão ao país, através dos acordos luso-brasileiro como o Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres. Esse período ensejou também a presença dos nossos jovens qualificados buscando pós-graduação nas universidades locais. Entretanto, na virada da 1ª para a 2ª década muitas turbulências ocorreram no campo – econômico-financeiro do planeta, afetando tudo e todos. Foi a conhecida crise de (2008 -2012) ou do Sub- Prime onde tudo parecia implodir. Quando as coisas começaram a se acalmar, foi a vez do Brasil entrar em recessão (2014 – 2016) e crise política com a destituição da Presidenta Dilma de forma arbitrária e ditatorial. Enquanto isso em Portugal, a Economia se reaqueceu atraindo empreendedores e investidores estrangeiros. Muitos profissionais liberais, artistas e aposentados brasileiros buscando segurança e qualidade de vida e alguns até com dupla nacionalidade formaram uma corrente migratória de chamar atenção e atingindo recordes impensados. Uma Lei chamada da Nacionalidade Portuguesa passou a conceder cidadania aos netos nascidos no Brasil. Enfim, em pouco tempo, os brasileiros formaram a maior comunidade estrangeira em Portugal, contabilizados em cerca de 400 000 pessoas. Esse contingente populacional de modo geral se concentra nos grandes centros urbanos e regiões litorâneas. Enfim, em lugares com mais oportunidade de trabalho, serviços e redes de apoio. É evidente que o local líder em concentração brasileira é Lisboa com cerca de 294.736 residentes estrangeiros e brasileiros. Em seguida o Distrito do Porto com 55.473 residentes. No Censo de 2023 o percentual de migração brasileira foi de 35,3% do total. Outros municípios: Cascais, Sintra, Braga, Setúbal, Faro e Algarve. Esses dados não serviriam para um trabalho acadêmico pois não privilegiam uma série de possibilidades contraditórias dependendo da fonte de informação caso seja o Itamarati ou o SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras). E aí, esse sonho idílico vai durar para sempre? Essa é a minha pergunta principal para a Míriam uma carioca que foi morar em Lisboa em 2018, portanto com 7 anos de experiência. Míriam é professora graduada em Letras, Português, Literatura pela UERJ onde também fez Mestrado em Educação em 1992. Tem domínio sobre 3 idiomas estrangeiro francês, espanhol e inglês, portanto é hoje cada vez mais uma cidadã do mundo pois, a partir de Lisboa rodou pela Europa e já está de passagem comprada, numa viagem à China na próxima semana. Míriam, aqui no Rio sempre foi uma cidadã ativista dos movimentos e conquistas sociais e quando se transferiu para a Europa não deixou de manter sua presença nas ruas e praças acompanhando de perto os acontecimentos não só em Portugal, quanto na Europa e no mundo. Vamos mostrar algumas das suas variadas fotos, entre elas, a da Festa dos Cravos comemorada em Portugal no dia 25 de abril de 1974, um dos momentos mais simbólicos da história moderna de Portugal unindo as ideias de Soberania, democracia e dignidade popular. Daí porque a Festa dos Cravos ´se tornou uma memória viva e acima de tudo um Ato Político tipo “Ditadura Nunca Mais”, ou seja, o fim da Ditadura Salazarista que durou 42 anos indo de 1932 a 1974, tendo sido o regime autoritário mais longo da Europa Ocidental do Séc. XX. Segundo José Saramago; “O 25 DE ABRIL não libertou apenas Portugal. Libertou a alma de um povo que há muito tempo havia desaprendido de sonhar.” E Míriam reconhece que hoje viver em qualquer país da Europa, não é nada fácil para nós estrangeiros. Os produtos dos supermercados alcançam preços altíssimos. E mesmo para os portugueses a situação piorou muito. Em relação à juventude, entrar para uma Universidade é difícil e complicado, principalmente os que moram no interior do país, por não terem como arcar com o preço exorbitante das moradias. Daí porque 60.000 jovens portugueses estão atualmente, excluídos da formação universitária. Entretanto a ênfase de Míriam vai para o sentimento xenofóbico e racista tanto dos europeus quanto dos portugueses. Essa é a bola da vez pois o continente canaliza o seu ódio contra o outro, ou todo aquele que não seja o americano branco e rico; o inglês, colonizador; ou o Espanhol traduzindo: alguém que tenha muita grana e venha para comprar o que ainda resta de Portugal!

Niterói 05 de outubro de 2025

Helena Reis

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