O Programa Eco Taba entrevista Marina dos Santos

Marina dos Santos nasceu em Cascavel cidade do Paraná formada pela UFRJ em Serviço Social (2011-2015) no Rio de Janeiro. Mais importante do que falar sobre o seu curriculum é enfatizar suas ações à frente do MST. Foi membro da Via Campesina para a América do Sul e da Coordenação Latino-Americana de Organização do Campo. Mas, quem é essa Marina que até hoje nos surpreende em 25 anos de atuação no MST. É uma mulher que não fugiu ao seu destino e que aprendeu à ferro e fogo qual o significado da palavra peleja no sentido de labuta, de amor à terra, de luta, numa recusa visceral em desistir, esmorecer ou abdicar do direito de sonhar. Filha de pequenos camponeses, na zona rural de Cascavel, ainda criança, assistiu a mão arbitrária do setor financeiro   expulsando   sua família das suas terras. Quantos camponeses atingidos por geadas, secas ou inundações tiveram destino semelhante se submetendo ao poder implacável de Bancos poderosos? Mas, o processo não envergou sua coluna dorsal ao contrário, só contribuiu para enrijecê-la.

Anos depois, Marina teve a sorte de entrar em contato com a Pastoral da Terra e ser iluminada pela compreensão de todo o processo vivido.

A ideia da Reforma Agrária no Brasil vem desde 1955 através da criação das Ligas Camponesas em Pernambuco, um Estado do Nordeste brasileiro e como os demais, assolado por secas frequentes. Francisco Julião, advogado defensor dos camponeses, acabou sendo o líder do movimento que durou até a derrubada do Jango em 1964 e a implantação da ditadura militar. Ao contrário do que aconteceu na maioria dos países desenvolvidos onde ocorreu a democratização da Terra, no Brasil desde   a metade do século XIX, época da abolição do tráfico de escravos o Império havia decretado a Lei de Terras que manteve a concentração fundiária absurda, com um só proprietário sendo dono de terras do tamanho de países como Portugal, Holanda, Chile, Colômbia, etc . Desde essa época se consolida também uma prática que permitiu ainda mais, a expansão do latifúndio, ou seja, a grilagem de terras devolutas e a prática de uma falsa legalidade através de documentação forjada e provavelmente contando com a conivência e cumplicidade cartorial sempre em mãos de apaniguados.

      

     

O MST surge em 1984, no “Encontro Nacional dos Trabalhadores Sem Terra “ no Estado do Paraná, sob a liderança de João Pedro Stédile. Não foi mero acaso que Marina de Cascavel cerca de uma década depois, tenha aderido   ao movimento. Na verdade, ele só ganha força algum tempo depois, com a Ocupação e posterior Assentamento da Fazenda ANNONI no Rio Grande do Sul.

A histórica marcha da Ocupação da Fazenda Annoni é uma epopeia eletrizante e pode ser melhor avaliada através do Documentário “Terras para Rose“ ou lendo artigos na Imprensa Alternativa como“Brasil de Fato” e “Outras Mídias” .

Em 29 de outubro de 1985 mil e quinhentas famílias com mais de 9.000 trabalhadores Sem Terra vindos de 33 Municípios do Estado Gaúcho, amontoados em centenas de caminhões e outros à pé, tinham o propósito de chegar a Nova Santa Rita para ocupar um latifúndio improdutivo conhecido como Fazenda ANNONI. Essa grande aventura é um marco da luta pela Reforma Agrária. Articular uma movimentação dessa natureza, feita em surdina e com uma estratégia precisa, cheia de códigos e sinais para não serem vistos ou identificados, com medo das forças policiais truculentas herdeiras da recém extinta ditadura, não é qualquer coisa e nem para qualquer hum. Há que ter fibra, coragem, tenacidade e a certeza de que o Brasil precisava de mudar seu rumo. Nada falhou nessa operação até chegar “A Terra Prometida” ironicamente pelo Governo Sarney ,que naquele ano havia criado o Ministério da Reforma e Desenvolvimento Agrário e prometido desapropriar a Fazenda em questão devedora do Estado. Os camponeses adentraram suas terras numa noite de lua cheia entre 4:30h e 6 h da manhã e a ocuparam de acordo com o script traçado.

O latifúndio brasileiro é a nossa saúva territorial que traz cada vez mais desgraça. Estudos da Oxfam de 2006, baseados nas estatísticas de órgãos de pesquisas como o IBGE e, sem atualização desde então por motivos inconfessos, mostra que menos de 1% ou 0,9 %, dos proprietários rurais do país, ocupa quase metade ou 45% da área rural do país. Na verdade, vivemos num país dividido entre o grande capital econômico financeiro com suas Empresas Nacionais e Multinacionais e os grandes Proprietários de Terra e do outro lado os Trabalhadores Sem Terra e Operários Sem máquinas ou Instrumental de trabalho contracenando com a miséria e a fome. Deixo de lado o recheio da pirâmide responsável em amaciar os conflitos entre esses dois polos, a nossa chamada classe média. Nosso sistema político é forjado para sustentar esses interesses monopolistas haja visto a concentração das grandes fortunas nas mãos de 1% dos chamados super ricos.

Os grandes latifúndios têm servido ao propósito, não de alimentar a fome dos brasileiros   e sim de atender ao mercado internacional. A superprodução do agronegócio num país   que tem hoje cerca de 30 milhões de pessoas que passam fome serve para nos envaidecer ou nos envergonhar? É um sistema que não promove igualdade e justiça e sim fome e miséria. Em 2021 em plena crise da COVID o agronegócio bateu record de lucro com a exportação das commodities. A política do agronegócio além disso não promove a sustentabilidade ambiental, nem econômica ou social. Pelas suas características de monocultura cria uma agricultura artificial e muitas vezes agravada pelo uso indiscriminado do agrotóxico   e atualmente pela opção por sementes transgênicas de consequências incalculadas não só pela eliminação das sementes, como pelo empobrecimento das plantas e pela poluição dos lençóis freáticos, pelo extermínio de seres responsáveis pelo equilíbrio do ecossistema coma sapos, abelhas, etc . Em resumo o agro é morte, é tóxico, é mono, é trans, é derrubada, é fogo, injustiça e miséria. Não podemos aceitar que o nosso Congresso tenha uma maioria de representantes vindo da bancada da Bala, do Boi e da Bíblia e defensora inconteste não só do agro, como do garimpo e do desmatamento para ambos os fins. Em 2016 o Congresso votou uma Medida Provisória perdoando dívidas de proprietários rurais acima de R$ 1 milhão com desconto de 65% do valor. O número de inadimplentes era de 4.013 pessoas e o valor devido acima de R$50 milhões.

Nenhum movimento social que pretenda realizar mudanças estruturais no Brasil deve ficar à parte do sistema político. Pelo contrário, nossas bancadas devem contar com lideranças reforçadas na luta para levar pautas importantes em todos os níveis, desde os Municípios aos Estados e a Federação como um todo. Temos nessa entrevista com Marina dos Santos, candidata a Deputada Estadual do Rio de Janeiro a oportunidade de falar das mazelas do nosso Estado um dos maiores devedores da União e também a se reunir conosco na CLEMAARJ no dia 25 de junho no Teatro Oscar Niemeyer em Niterói para tratar dos temas do Meio Ambiente e Agricultura do nosso Estado do Rio.

 

Assista a entrevista ao vivo pelo Youtube, clicando na imagem abaixo:

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