O Programa Falou e Disse recebe Marcos Arruda.
Marcos Arruda é geólogo, economista, educador popular, escritor e acima de tudo um ser humano que tem como lema a luta e a conquista dos direitos humanos, da paz e da democracia. Ao longo de sua vida, riquíssima por sinal, ele conseguiu unir o conhecimento teórico- acadêmico da sua formação de geólogo com a vivência prática. Assim foi que já em 1968, depois de trabalhar como geólogo no Departamento Nacional de Obras e Saneamento e na Propec mudou-se para São Paulo onde viveu a experiência de trabalhar como operário de fábrica na Mercedes Benz. Nesse período pode sentir na pele o que vem a ser a exploração da mão de obra no exercício de uma atividade, não só mal remunerada, como sem nenhuma perspectiva futura de evolução ou conquista de melhores condições de vida. Sem se deixar abater entrou para o Sindicato da classe e se juntou à luta sindical. Nesse período, o Brasil já havia dado início ao chamado anos de chumbo, quando a repressão de um regime comandado pelos militares, era implacável. Tanto assim, que Marcos acabou sendo preso e torturado. Nessas circunstâncias foi muito importante a ação desenvolvida por sua mãe Lina Penna Sattamine que morava na época nos EE UU e, promoveu uma série de denúncias através de órgãos competentes do país. Graças à ela, Marcos conseguiu conquistar a liberdade, não sem antes sofrer toda a sorte de tortura. Sem querer dar “spoiler”, mas apenas divulgar, na próxima semana, 2ª feira 7 de julho, às 19h na Livraria da Travessa em Ipanema Rio, haverá o lançamento da 2ª Edição do Livro escrito pela própria LINA sua mãe falando da saga do filho Marcos e que se chama “ESQUECER? NUNCA MAIS!” No dia seguinte haverá debate na ABI sobre o tema. Os posts serão publicados no final do artigo, incluindo outros lançamentos sequenciais do Livro, em SAMPA (SP). (1)
Por todas essas ocorrências Marcos Arruda acaba recebendo asilo nos EE UU e lá continua seus estudos fazendo mestrado em Economia do Desenvolvimento na America University em Washington. Mesmo fora do Brasil dá continuidade à sua ação política e cria um Comitê para a Liberdade na América Latina e, concomitantemente trabalha como pesquisador no Instituto de estudos Políticos em Washington. O espírito inquieto de Arruda não se abate e passa a ser uma espécie de cidadão do mundo: faz uma visita à Guiné Bissau a partir do Instituto de Ação Cultural e dá início ao preparo de um trabalho de assessoria do Ministério de Educação do país e de Cabo Verde criando equipes de Educação de Jovens e Adultos em Comunidades desses países. De forma similar também fez trabalhos na Nicaragua, Guatemala, Costa Rica e México, discutindo e abordando experiências Comunitárias de autogestão e formação cultural. Mais tarde vai para Genebra na Europa e participa como membro do Instituto transnacional em Amsterdã na Holanda. Ao regressar ao Rio em 1982 participa com Herbert de Souza (Betinho) e Carlos Afonso da criação do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Políticas) uma organização não governamental sem fins lucrativos e sem vínculo partidário ou religioso onde atuou como diretor de programas até 1986. A partir desse ano junto com companheiros economistas do Cone Sul criam o PACS – Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul. Em 4 de março de 2021 Marcos Arruda recebe uma justa homenagem pela sua dedicação e trabalho em prol da humanidade com a Medalha Pedro Ernesto na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, através do vereador na época Tarcísio Motta. Nesta oportunidade Marcos faz um discurso que revela todas as qualidades da sua gênese e prática de ser humano. Na verdade, não é a modéstia que está atrás de suas palavras e sim a coerência das suas ações e fazeres. Dentro desse contexto, a homenagem só pode ser extensiva ao seu imenso colar ou teia de relações. Reitera que o ser denominado Marcos é o somatório de um conjunto de outros seres e daí ele se sentir tanto em plenitude quanto, uma insignificante partícula quântica de grande consciência cósmica. Sendo assim se define no gerúndio, virando, portanto, “sendo” humano e como tal num processo contínuo e eterno de ser e vir a ser humano, sempre formatado na construção coletiva. Com muita ternura e sem querer ser breve ou leviano menciona todos os seres e as suas ações que perpassaram seu viver no planeta. Apesar do conjunto representar o “quanta” consciente reflexivo que compõe a sua teia de relações eles a menciona dando o seu peso e valor verdadeiro. Pensei em transcrever guardando a mesma dimensão, mas, achei a missão quase impossível não só pela quantidade de pessoas, de grupos, de trabalhos tão diversos e importantes pelo conteúdo, que achei oportuno que cada um dos leitores se motive a ir à fonte real elaborada pelo nosso herói (2). Entretanto num dos trechos desse texto de agradecimento, Arruda se reporta ao herói Martin Luther King e aproveita o ensejo para também revelar e registrar seus múltiplos sonhos os quais também indico a fonte, mas não me furto a selecionar pelo menos um deles:
“EU TENHO UM SONHO, de ver sentadas na imensa mesa redonda do nosso país, em igualdade de condições pessoas de todas as etnias, origens, idiomas, gêneros, celebrando juntas a irmandade planetária e o reconhecimento da Mãe Natureza como sujeito de direito”. (3)
Para concluir quero voltar a falar sobre o PACS, uma Entidade com 39 anos de atuação pois surgiu em 1986 e se espraiou por todo o Cone Sul. Seu foco é o fortalecimento de alternativas solidárias e democráticas visando garantir o mínimo possível de justiça social. Sua visão macro é ter um mundo livre das opressões capitalistas, racistas, patriarcais e livres principalmente do conluio do sistema financeiro. Para atingir seus objetivos mantém ou mobiliza movimentos sociais, redes internacionais, governos populares e organizações da sociedade civil. Além disso produz estudos, faz relatórios sobre ações de Empresas que provocam impactos ao meio ambiente. Questiona e condena a prática de Violações de Direitos Humanos sempre que ocorrem, em função de apropriações indevidas, obras sem segurança ou que causam impactos ambientais de qualquer outra natureza. Em resumo pode-se dizer que uma parte de suas temáticas sejam a agroecologia e a correspondente soberania alimentar; Conflitos socioambientais através de megaprojetos; e como um marco inicial desde a sua criação o problema do Endividamento Público correlato às Instituições financeiras e mais, Militarização do Planeta e os problemas da Governança Global e seus impactos nos países do Terceiro Mundo. Dentre as suas inovações político pedagógico podemos citar o desenvolvimento de “pedagogias de luta” e a metodologia participativa. As várias vertentes da questão feminina também está no cerne de sua preocupação mais a Dívida Pública ainda tem grande relevo na sua pauta e estão ligados à Soberania Nacional. Entrevistado por ocasião de um Fórum Social Mundial, Marcos enfatiza a necessidade do movimento reiterar ao mundo que a economia não é monopólio do grande capital e daí mostrar a possibilidade de uma outra forma econômica, centrada na solidariedade, na justiça e na vida. Em outra entrevista destaca a importância de formar redes sociais e políticas que desafiem o modelo econômico dominante isto é uma economia alternativa ao capital.
Para concluir quero enfatizar sua atuação continuada em defesa dos direitos humanos, da democracia, da justiça socioambiental e da integração regional (Mercosul, ALCA, etc.).
(1) Bate-papo e lançamento:
ESQUECER? NUNCA MAIS!
07/07 – 19h
Livraria da Travessa
Rua Visconde de Pirajá, 572 – Ipanema/RJ
08/07 – 18:30h
ABI
Rua Araújo Porto Alegre, 71 – Auditório 7º andar – Centro/RJ
10/07 – 19h
Biblioteca Mário de Andrade
Rua da Consolação, 94 – República/SP
11/07 – 19h
Drummond Livraria
Avenida Paulista, 2073 – Conjunto Nacional/SP
(2) ARRUDA, Marcos. “Oito decênios na alegria de viver”: Discurso na entrega da Medalha Pedro Ernesto – Instituto Pacs,2021 – Disponível em: https://biblioteca.pacs.org.br/wp-content/uploads/2021/04/Homenagem-a-Marcos-Arruda.pdf
(3) IBID – A fala de M.Arruda com a “referência a Martin Luther King” está no documento: ARRUDA, Marcos. “Oito decênios na alegria de viver”: Discurso na entrega da Medalha Pedro Ernesto Instituto Pacs, 2021 – Disponível com informação acima.
Niterói, 30 de junho de 2025.
Helena Reis