Viagem à Índia Profunda
Helena Reis – Niterói, 2007
Nosso Guia Narendra um mês antes, tentou nos preparar para esta grande aventura que é conhecer a Índia. Além do roteiro, da história e da cultura indiana, fazia referência aos perigos de contaminação através da água, dos alimentos, a precariedade da higiene e a precaução com os macacos. Macacos me mordam mas, eu não podia me convencer das agressões destas figuras tão queridas, nossos ancestrais, logo eu que tenho uma quedinha secreta por estes parentes de inteligência tão aguçada. A cada reunião me vinha uma sensação meio indigesta – a de enfrentar um país, durante uma longa viagem, percorrendo cidades do sul ao norte, com uma mochila nas costas, dormindo em Ashrams pouco confortáveis, em Hotéis sem estrelas, em Guest houses com banheiros mal cheirosos. A Lendária Índia dos pobres, miseráveis e empestiados, da proliferação dos lixões, me assediava. Como sobreviver a esta imagem negativa, reforçada por muitos aqui no Brasil e sair de lá intacta… Meus medos fóbicos tirei de letra, mas da Índia ninguém consegue sair ileso.
É uma viagem fora de órbita onde vamos viver nossas próprias contradições, perceber paradoxos, rever conceitos e receber porrada na cara à todo instante, em sentido figurado é claro, pois a não violência, a resistência pacífica só pode ser made in India. Na confusão daquele formigueiro humano não assisti, uma só vez, alguma cena de violência. Tudo se resolve na paz: roubo, assalto, sobressalto, bala perdida, crime organizado ficaram pra trás. Esta tranquilidade será apenas aparente? Rememorava os diversos episódios da independência do país, com disputas territoriais: a divisão do Paquistão que gerou a morte de 200 mil pessoas; os movimentos separatistas da Kashmira; as diferenças religiosas entre hinduísmo, islamismo, budismo; as diferenças étnicas com a presença marcante dos sikhs e muçulmanos; as lingüísticas com mais de 10 idiomas; as sociais e de casta. O assassinato de Gandhi; de Indira Gandhi; de Rajiv filho de Indira. Tudo me levava a crer que a Índia seria intrinsicamente violenta. Como então conseguem ser tão afáveis, cordiais, alegres, bem humorados, sem estresse e aparentemente pacíficos?
Eis aí a primeira grande questão.
Mumbai- janeiro de 2007 –
A exuberância da Índia podia ser notada ao primeiro flash mas, o que chamava atenção era o caos do trânsito: frenético, barulhento, ensurdecedor. Esta primeira impressão, ao longo da viagem foi reforçada com a presença marginal das “praguinhas” apelido que dei aos tuk tuks que pululavam em toda a Índia. “Praguinhas” são os modernos riquixás à motor ou bicicleta que invadem o espaço público disputando seu lugar ao sol com os carros, ônibus, vans, milhares de pedestres, vacas, elefantes eventuais ou camelos de plantão. Minúsculos, ágeis e às centenas, esses triciclos carregam passageiros apavorados que fecham os olhos a cada cortada de alto risco esperando a batida da vez. E o milagre … nada parece acontecer! O trânsito pode ser lento, mas não engarrafa – também, lá não existem sinais ou guardas de trânsito para entravar sua fluência – aliás o trânsito anda sob a batuta das buzinas pois, todos buzinam ao mesmo tempo e o tempo todo, de modo que a adrenalina estimula a atenção dos habilíssimos motoristas. Com o coração aos pulos, eu que detesto montanha russa, os tímpanos explodindo, recebi meu primeiro batismo de fogo pelo lado da mão inglesa…
Logo logo outra Índia se impõe: – a da filosofia; dos ensinamentos. Bem cedo fomos à casa de Ramesh Balsekar, reconhecido como um dos sábios contemporâneos e mestre da pura filosofia advaita. Quando chegamos, sua casa muito confortável, já estava apinhada de curiosos e seguidores, em busca da palavra do mestre. A conversa era em inglês, sem tradutor e a platéia em sua maioria europeia. A barreira do idioma dificultava uma perfeita compreensão, mesmo assim ficou claro que o público perguntador, queria de Balsekar uma espécie de receita de bolo para se chegar à conquista espiritual, à libertação do ego enfim, à sabedoria. As perguntas vinham entranhadas de problemas existenciais a nível pessoal e o sábio denotando experiência e paciência deixava claro que todo aperfeiçoamento é lento e exige uma prática e uma disciplina. Foi um instante em que a arrogância pragmática do Ocidente se rendia à evolução espiritual da Índia.
Mumbai tem o glamour de Bolywood, um comércio florescente, hotéis com o conforto ocidental como o Taj Mahal mas, principalmente uma intensa vida de rua (streetlife), muitos templos, monumentos e bazares em quantidade industrial, já que metade do comércio exterior da Índia tem ali sua sede. Mais detalhes, pode-se achar em qualquer guia de viagem, prefiro me deter no deslumbramento do grupo em relação à mulher indiana. Todas as indianas, independente da classe social a que pertença, se vestem e se enfeitam da cabeça aos pés como puro deleite. Extasiadas ao observar suas roupas coloridas com todos os matizes de cores, quisemos “macaqueá –las”. Às pressas visitamos os bazares de tecido, onde é possível fazer sob medida, os Saris e os Punjabs e algumas horas depois, sair pelas ruas brincando de ‘indiana” e revelando nossa atração fatal pela nova cultura. Em nós tudo ficava aquém, nos faltava àquela beleza de traços finos, olhos amendoados e delineados com Kajal, um lápis especial; sobrancelhas e tranças grossas, estas enfeitadas com guirlandas de flores naturais ou finas bijuterias; a testa, marcada ao centro com adesivos coloridos; as mãos, pintadas com rhena toda em arabesco – uma obra de arte; o tornozelo com lindas pulseirinhas de prata e a tez cor de canela bem ao gosto das especiarias que lá fomos buscar um dia. Em nenhum país do mundo vi cabelos e peles tão bem cuidados, sedosos e brilhantes. Nos dedos dos pés e das mãos, profusão de anéis e pulseiras. Em muitos lugares vi mulheres trabalhando em obra –trabalho duro, pesado, nos lixões da cidade ou nos campos de cultivo, e sempre enroladas nos seus lindos Saris, reinando como rainhas de Sabá. Qual o segredo de tanta beleza em um meio ambiente às vezes degradado e degradante? Mistérios de uma India em que arranhávamos a superfície. E entre o mistério e a mística uma tênue linha se desvelava.
Lonavla – Mil templos numa passagem do tempo. Casamentos: capítulo à parte)
Casamento na Índia é coisa séria – um marco na vida do casal e da família. Fevereiro- plena estação dos casamentos e eles se realizavam em todo o país. Uma festa que pode durar vários dias e que inclui muita música, muita dança, centenas de convidados, roupas deslumbrantes, banquetes, shows, desfiles nas ruas, gente em lombo de elefante ricamente paramentado e muito mais. Tudo vai depender da casta a qual pertença a família. Em Lonavla participamos do cortejo de um casamento, como convidados especiais do pai da noiva. Como são afetivos e espontâneos os indianos! Só falta nos carregar no colo..! Rapidamente nos integram ao grupo. Dançam juntos, se divertem juntos. De repente no meio das danças a uma batida rítmica tínhamos de cruzar e bater forte na espada de madeira do parceiro ao lado. Davam risadas da nossa falta de jeito.
Puttaparty – É a Índia do Sai Baba, um fenômeno centrado numa só pessoa, talvez sem paralelo no mundo inteiro – cidade de romeiros, de seguidores de um guru espiritual tão controverso quanto poderoso que diz ser um avatar, uma reencarnação de Shiva e Shakti. E a multidão fanática, esperando horas para vê-lo passar em uma de suas dúzias de “limousine” de vidros fumê, a ocultar sua figura de adoração coletiva.
Milhares de devotos são atraídos de toda a parte do mundo para o Ashram de Sai Baba onde podem praticar o Darshan ou a visão espiritual. Cânticos e músicas são entoados às primeiras horas da manhã principalmente o Pranava ou som primordial que cria vibrações super poderosas o “OM”. A pequena aldeia cresceu e se transformou em uma cidade onde tudo surge “Dele” ou inspirado “Nele”. Pensei na diferença de proposta do guru de Lonavla que abandonou seus bens terrenos, uma imensa propriedade onde hoje funciona um Centro de Yoga, reservando para si e o seu grupo apenas um cantinho. Lá praticam seus rituais e acolhem com afeto todos aqueles que os procuram buscando o aperfeiçoamento espiritual.
Agora precisávamos do avião para um deslocamento mais rápido em direção a Chenai ex Madras. A cidade é a capital da região do Tamil Nadu, bem ao sul com clima tropical quente e úmido. Faz calor, mesmo agora no inverno. Eles dizem que lá há 3 estações: quente, muito quente e quentíssimo. É a quarta cidade maior da Índia e tem um longo litoral margeando a baía de Bengala. É lá que fica a famosa Marina Beach a segunda praia mais extensa do mundo. Na volta fomos almoçar num Hotel de primeiríssimo mundo com restaurantes de várias nacionalidades, de um luxo asiático, em meio à vegetação luxuriante…Foi um contraste avassalador depois de atravessar zonas pobres e sujas.
Nossa viagem continua em ônibus particular em direção ao litoral sul até Pondichery, passando por aldeias e campos de cultivo. Os arrozais se sucedem ao longo de milhares de hectares. Pelas estradas, minha grande curtição, eram as bostas das vacas sagradas, me explico melhor, não exatamente pelo conteúdo mas, pela forma artística como são empilhadas aos montes. É um material com mil e uma utilidades, uma espécie de bom brill indiano – serve inclusive de tijolo para a construção de casas.
Pondichery é um enclave francês à beira mar em Tamil Nadu. Os franceses se estabeleceram no local por volta de 1673 e mesmo após a independência da Índia, permaneceu um território à parte. Ali se respira uma outra atmosfera bem mais tranquila e com uma arquitetura colonial francesa muito interessante. Nosso Ashram ficava no coração do quarteirão francês na rua Roland Romain. A influência francesa ainda é muito marcante e logo encontramos um típico restaurante francês uma espécie de oásis para o nosso paladar saturado pelo sabor indiano carregado de pimenta e especiarias. Fizemos desta ilha francesa nosso Q.G e pela primeira vez e na Índia degustamos excelentes vinhos franceses. A bebida na Índia é proibida- tipo lei seca. O país no entanto produz vinhos para exportação. Na verdade em todas as cidades, nosso grupo sempre procurava o menu ocidental. Por melhor que seja a cozinha indiana nosso organismo se ressente imediatamente dos excessos ou diferenças de tempero dos pratos indianos. Ao longo do mês, uma a uma, as pessoas do grupo eram acometidas por problemas gastrointestinais. Felizmente a recuperação da maioria era bem rápida.
A Índia não é unanimidade claro! Um dos companheiros quis voltar correndo pro Brasil e se livrar de tudo aquilo. O pior é que no início procurava passar sua visão negativa para os demais. Quando o grupo percebeu e denunciou esta postura o clima se tornou insuportável e a única solução foi mesmo o regresso antecipado. Esta é a maneira Índia de ser: ame-a ou deixe-a! E eu, a cada dia amava mais este desconcertante país.
Pondichery é o local onde viveu o filósofo Sir Aurobindo que atraiu milhares de seguidores ocidentais em busca de seus ensinamentos e sabedoria. Ele é a ponte entre a filosofia Oriental e Ocidental. Daí não foi por acaso que surgiu a poucos kilômetros a utópica Auroville.
Auroville – E uma espécie de comunidade universalista fundada em 1968 com o ideal de partilhar conhecimentos, propagar a paz, aceitar e respeitar as diferenças sejam quais forem, enfim uma utopia bem ao estilo hippie dos anos 60, mas que se manteve até hoje se modernizando e oferecendo excelentes condições de sobrevivência. A população local conseguiu desenvolver trabalhos de qualidade que podem ser avaliados pelo público através de boutiques de venda em seu Centro de Acolhimento. Há um templo ecumênico super interessante e as casas dos moradores amplas, confortáveis, bem construídas em chácaras cultivadas.
Tiruvannamalai- É uma cidade onde tudo é sagrado e fica na base da Montanha Arunachala e daí a afluência de centenas de flanelinhas abóbora que fazem voto de pobreza e ficam sentados em frente ao Templo Arunachaleswar o maior templo do mundo com 10 hectares de área. É uma cidade “Shaivita” ou seja onde o Senhor Shiva é adorado em forma de fogo símbolo da sua luz, e que erradica a escuridão e o mal.
Acordamos às 5 horas da manhã para subir a Montanha Sagrada “Arunachala” que fica atrás do Mosteiro de “Ramanaashram” o qual só se pode atravessar descalço. Subimos ainda no escuro, assistindo o incrível dia amanhecer, ouvindo o canto dos pássaros misturados aos cânticos vindos do mosteiro e pouco à pouco inaudíveis. De repente, lá estão eles –os macacos! Invadimos o seu santuário! Nem assim somos agredidos… duas horas de caminhada e chegamos à 1ª gruta ou Cave Virupaksh onde Sri Ramana Maharshi grande santo hindu permaneceu em meditação durante 17 anos entre 1899 e 1916. Ele ensinou um método chamado auto investigação com base no eu pensante à procura de sua verdadeira fonte. E quando finalmente o ego é superado por algo mais profundo, a mente se dissolve. Este mestre hindu da linha Advaita Vedanta foi respeitado e procurado por pensadores como Mahatma Gandhi, Yogananda, Swami Sivananda e outros.
Em Tiruvannamalai vivemos a experiência do correio ou seja enviar para o Brasil um pacote lotado de coisas compradas pelo caminho a esta altura um estorvo. Ao lado do correio tem a empacotadora que coloca tudo que você tem, dentro de uma caixa de papelão e, com uma máquina de costura faz uma capa de algodão para envolver a caixa que depois de pronta é entregue na agência. Esta operação demora em torno de 1,30 h se não houver outros clientes.
Matura – A decepção começa cedo ou tarde da noite quando ao chegar encontramos um imundo e caro hotel. De manhã insuflados pela Jack o grupo queria debandar dali, mas para onde iríamos? Não havia outros locais reservados. O programa matinal era conhecer Vrindava, a cidade de Krishna. Caso achássemos local adequado voltaríamos para apanhar nossa bagagem. O plano não era dos melhores uma vez que a reserva do hotel era para vários dias, além do que, ir e vir de uma cidade para outra, em meio a um trânsito caótico, era complicado. Nosso mestre Narendra, tranquilo, desprovido do ego, muito zen, zen, zen, repetia sua frase lapidar: “O que tiver de ser, será”. Chegamos em Vrindava e na 1ª esquina, Narendra encontra com um grande amigo que morou em Visconde de Mauá e é especialista em Medicina Ayurvédica. Era a pessoa que caiu dos céus direto na nossa sopa. Ele nos levou ao melhor dos Ashrams de toda a viagem, um verdadeiro luxo e a preços módicos. É verdade conclui: o que tiver de ser será e na terra de Krishna milagres acontecem.
Em Vrindava está o maior templo de Hare Krishna do mundo. A maioria dos seguidores é ocidental. É um Templo alegre com maioria de jovens e muita música. O que dá o tom e o ritmo são instrumentos como katar (pratinhos) tabla, harmônio e maridanga e as vozes, quase sagradas dos jovens seguidores. As mulheres sentadas tecem guirlandas de flores para enfeitar o templo e o altar de Krishna. Quis participar – não deixaram. Minhas roupas não eram apropriadas. A cidade medieval se ressente da falta de instalação de esgoto e de urbanização com ruas estreitas dificultando o trânsito. Lá existem 2 000 templos onde mantras são entoados o dia inteiro e ainda varam à noite.
Finalmente o Taj Mahal – Viajamos rumo à Agra às margens do rio Yamuna no estado de Uttar Pradesh. Nossos olhos e ansiedade estavam todos voltados para o lendário Taj Mahal – afinal não é qualquer século que um imperador que possua um bando de mulheres possa se apaixonar à loucura por uma delas e a partir daí fazer qualquer coisa inclusive levar o Estado à falência com o mero intuito de render-lhe homenagem depois de morta. Na verdade se trata de um mausoléu. Saber da história não vem ao caso, de repente, até atrapalha, pois podemos criar resistências e não entrar em êxtase quase orgástico ao ver o mais belo Palácio construído no mundo, com mármores tecidos como renda, pedras preciosas valorizando cada pedaço da fachada, reluzente à luz do sol, translúcido à luz da lua, de tal forma que somos tocados e beatificados neste cenário de sonhos. É sempre bom esquecer que os artífices – os melhores do mundo –foram assassinados, depois do trabalho pronto, para que não reproduzissem aquela obra de arte em qualquer outro local.
O sonho de conhecer Rishikesh – Do sul ao norte- agora aos pés do Himalaia em Rishikesh, mais uma das cidades santa dos Hindus que atrai milhares de peregrinos e turistas o ano inteiro. Lá está o rio Ganges, o Ganga dos hindus, majestoso, descendo com dignidade da mais alta cordilheira do mundo, formando praias em suas margens e com águas límpidas e azuladas. Realmente uma dádiva. Um mergulho em suas águas geladas nos faz renascer e entoar hinos à vida e à mãe natureza. Escolhemos um trecho maravilhoso do rio depois de caminharmos à pé através de bosques. Depois do banho ainda assistimos de longe, um ritual de jovens européias que rasparam a cabeça e jogaram seus longos cabelos no leito do rio. Nem só de cinzas dos hindus mortos vive o rio que neste trecho se chama Bhagirathi. Aliás para muitos hindus banhar-se no Ganges seria uma espécie de redenção de todos os seus pecados mesmo os mais graves como por exemplo assassinar um brâmane que vem da mais alta casta hindu. As cinzas atiradas ao Ganges pela crença hinduísta vai acelera o aperfeiçoamento para que não seja preciso reencarnar várias vezes. Interessante são os degraus construídos às margens e que chegam até as águas. Eles favorecem as atividades como lavagem de roupa e os rituais à noite durante as festas, quando os peregrinos acendem velas que irão flutuar na água e colorir o contraponto do escuro ao som dos cânticos e mantras.
Nosso Ashram no alto da colina nos dava um visual cinematográfico. Rishikesh é tudo de bom! Lá é a capital mundial do Hatha Yoga com vários Centros onde você pode participar de cursos e oficinas. Os Beatles estiveram lá na década de 60 e daí pra cá hippies de todo mundo, elegeram Rishikesh como o local ideal de meditação e evolução espiritual. Tanto numa quanto na outra margem a curtição é a mesma. Pontes suspensas engarrafadas de gente, motos, vacas e macacos, cortam vários trechos do rio facilitando a travessia. Aqui os macacos vivem em bandos e um deles atacou as sacolas da Heloísa uma jovem brasileira do nosso grupo que mora na Tailândia, e lhe roubou os biscoitos. Em Outro Ashram encontramos um “quase guru” brasileiro seguidor de um Baba e que o público –a maioria europeia parecia reverenciá-lo como santo ou sábio não sei bem, pois faziam fila para beijar-lhe os pés.
A caminho do Himalaia – O passeio seguia a rodovia que leva ao Himalaia. Nosso objetivo era conhecer uma gruta onde vivia um guru meditando há vários anos. Esta prática é muito comum na Índia. Quando íamos voltar, Jack botou pilha para continuarmos a subida. Ninguém do grupo queria, mas como estávamos em dois carros e com a adesão da Márcia partimos nós três e mais o motorista, nesta aventura que talvez tenha sido o ponto alto da viagem pela sensação similar aos esportes radicais. A estrada era algo inusitado, completamente íngreme e de mão dupla, com passagem eu só dava para um veículo, precipícios alucinantes e pedras vindas de quedas de barreiras e deslizamentos em grande quantidade e em toda a parte. Jack entrou em síndrome do pânico e berrava como alucinada o que nos provocava incontidas gargalhadas meio nervosas. A região era maravilhosa com culturas em terraço e o Ganga sinuoso lá em baixo. Quando chegamos nos píncaros das alturas, surpresa agradável– uma gruta de Shiva que exploramos e filmamos em todos os detalhes. A volta foi mais tranquila sem muita gritaria e assim pudemos curtir o trabalho de operários que faziam a contenção da encosta com pedras de várias tonalidades formando desenhos geométricos.
Meu ideal seria conhecer as nascentes do Ganga e me aprofundar na região. Lamento, mas só em outra viagem!!!
Nova Delhi a última etapa da viagem – Haveria ainda algo a se ver nesta Índia.Com tantas descobertas e emoções outras surpresas nos aguardavam? Chegamos de trem, o único transporte que faltava conhecer. A Estação Ferroviária de Delhi, outro pandemônio. A sensação de novo estranha pois nos acostumamos com a tranquilidade de Rishikesh. Nosso hotel ficava ali perto numa rua que era nada mais nada menos uma espécie de rua da Alfândega com tráfego e mais uma agravante: rolar em mão dupla, pois misturado às praguinhas, as vacas, a multidão, vans e bicicletas em meio ao comércio intenso pleno de lojas de um lado e do outro e sem calçada. Durante uma semana circulamos por ali, nos habituando aos poucos com aquela “Babel” total. De manhã era mais difícil, porque o sono noturno nos fazia esquecer a guerra diurna.
Old e New Delhi – dois em um. Entre os séculos XVII e XIX a cidade velha foi capital do mundo muçulmano, daí a presença de inúmeras Mesquitas como Jama Masjid a maior da Índia com um pátio onde cabe 25 000 devotos.
A New Delhi é uma cidade criada pelo Império Britânico, super moderna, arborizada, com largas avenidas e numerosos palacetes e mansões. Surpresa maior nos aguardava ao conhecer o Fort Vermelho com muralhas de 33 m construídas em 1638 para impedir invasões inimigas. O forte por dentro é super interessante pela arquitetura e jardins e lá passamos uma tarde inteira.
Outra grande atração de Delhi é a Qutb Minar construções que datam do ataque muçulmano à Índia em 1193. O Minarete é uma torre de 73 m mais alta que Piza na Itália e também ligeiramente adernada. São cinco andares distintos marcados por balcões mas não é aberto ao público. O sítio é arqueológico pois a maioria das construções são ruinas muito conservadas e com trabalhos maravilhosos no estilo árabe.
Regresso à Mombai e de lá a Johannesburgo- E assim chegamos ao fim da viagem a India mística, misteriosa, incongruente, profunda, paradoxal e fascinante.