Por que Eco Taba?
Nossa Taba não estaria completa sem um programa que desse ênfase, fala e vez ao meio ambiente. É verdade que tudo na vida é interação e essa tem a ver com sistemas. A VIDA é sistema, é unidade, é troca , é composição, associação , interfaces. Nada se isola enquanto vivo, ardente, pulsante, ativo, conectivo. Então no momento em que uma ideia amadurece e passa a congregar, clamar e reunir, todos atendem e entendem a importância do chamado. E o grito claro da CLAMAARJ (Conferência Livre e Estadual do Meio Ambiente e Agricultura do Rio de Janeiro), nos conclamou a uma luta específica, pacífica num primeiro momento, mas, sem esquecer o enunciado do todo. Nosso Estado do Rio que desde sua criação sofre da ausência de um amálgama ou um barro de liga que una suas diferentes partes e contextos históricos. Um corpo não pode priorizar nenhum órgão. Em estado de inércia nosso Estado deve aprender a dirigir o todo não importa o que venha de cima, no alto das montanhas, cobertas de florestas ou matas onde estão as fontes de águas dos rios que irão abastecer os planaltos e as planícies e suas populações apinhadas. Dali em fúria, essas águas querem encontrar saída, fugir dos homens peçonhentos que encontraram em seu curso e que com violência vomitaram algo putrefato, indigesto, acobreado de impurezas, encrostado de ferrugens, plastificado, amordaçado, açodado como corpo maldito. Sem esse grito de guerra não vamos nos dar conta de que primamos pela incompetência em gerir uma natureza exuberante feita de praias, dunas e águas cristalinas. De manguezais que obedecem ao espaço tempo da gestação, do amadurecimento, do equilíbrio dos mananciais para a continuação e delírio das espécies. Posto isso, o grupo de divulgação da CLAMMARJ cria um programa na TABA TV para discutir cada atentado que o nosso meio ambiente tem sofrido e, especificar em detalhes como podemos criar uma estratégia de defesa do nosso Estado enquanto estrutura geográfica, histórica, social. Seu nome será “ECO TABA” como símbolo da energia telúrica pela qual clamamos . Como analogia quero me reportar a uma análise de Elton Luiz Leite de Souza – professor da UNIRIO sobre um poema de Manuel de Barros quando ele descreve as funções de uma ave do Pantanal Matogrossense a Arraia:
“Quando as águas do Pantanal secam e põem a vida em perigo: a arraia abre suas grandes asas e pousa no barro, retendo parte da água abaixo de si.
Com arte e cuidado, a arraia recria um pequeno Pantanal entre seu abdômen e o chão úmido , para que nesse espaço protegido o coração do Pantanal possa habitar e perseverar, vivo. Generosa, a arraia deixa tudo o que corre perigo vir morar sob suas asas, fazendo delas abrigo.
Migram para debaixo das asas da arraia não apenas bichos, instalam-se também sementes de futuras flores e frutos, de tal modo que nesse Pantanal em rascunho tudo o que vive, devém embrião da arraia-útero.
Sob a proteção de tal Gaia-Pachamama, a vida continua, resiste, fortalece-se; acontecem agenciamentos, contágios, enamoramentos da vida por ela mesma, una e múltipla. Perseverante, a arraia é a Vida salvando a vida.
Pois quando as águas do Pantanal vão secando , aumenta a lama e vai sumindo o oxigênio. Os predadores sorrateiros e oportunistas lucram com a desolação e ficam à espreita para predar a vida que sufoca .
Mas a arraia é resistente: quando o oxigênio falta às águas, a arraia aprende a sorvê-lo do ar para partilhá-lo como “Pneuma”. Na Grécia antiga, “Pneuma” é um dos nomes da alma, assim como “Psiquê”.
Pneuma é o sopro que dá vida ao corpo e forma com ele um único e singular ser. Em latim, “Pneuma” é traduzido por “Spiritus”: “sopro que dá vida”.
Apesar dos perigos em torno, nunca a arraia se entrega ou desabraça . Quando as águas novamente caem do céu e a vida pode recomeçar, a arraia levanta as asas e parteja os seres que salvou do perigo, como uma utopia que enfim sai das teorias e livros para ser criada na prática.”