O Programa Falou e Disse recebe Claudia Guedes.
A Dra. Cláudia Guedes é graduada na UFF e especializada em Nefrologia nesta mesma Universidade. É pós-graduada em Medicina Estética e Ortomolecular. Atualmente coordenadora do Ambulatório de Antienvelhecimento da Sociedade Brasileira de Medicina Estética.
Nos dias de hoje temos na área médica uma série de caminhos que nos indicam quais as prevenções e cuidados devemos tomar com o nosso ser visando protegê-lo, não só das doenças como do inexorável processo de envelhecimento. Independente de querer esmiuçar as diferenças de cada método temos de ressaltar à priori, que antes de tudo, haja o aprofundamento de uma consciência existencial sobre o porquê estarmos no aqui e agora e, o sentido de querer prolongar nossa presença no planeta. Quais as nossas escolhas nesse processo e mais, somos e seremos protagonistas da nossa vida até o fim? Em princípio sim, a menos que haja acidentes de percurso. Podemos evitá-los ou é melhor deixar a critério do acaso? Se retroagirmos no tempo vamos ver que as pessoas idosas tinham o compromisso de passar seus conhecimentos às novas gerações. Exatamente por isso o “ancião” era considerado o “sábio” com muitas pautas enriquecedoras. E por que não se pode fazer o resgate desse e outros múltiplos papéis e servir de modelo para as novas gerações? Há que ser criativo e fazer do tempo dito ocioso construções e ações nunca antes imaginadas.
Então, não temos tempo a perder! Nosso objetivo não é alcançar o mito da eterna juventude, mesmo os que podem usar recursos tecnológicos de última geração, e nem disputar com os jovens um lugar ao sol. Mas, somos agentes ativos do processo o qual deve ser vivido não de forma individualista e excludente e sim aberta ao mundo e aos seres que nele habitam. Iniciemos então pela integração corpo-mente e, até fazendo uma visitinha aos antigos gregos que nos ensinam muito sobre a dietética e a prática de si. Ligando as pontas vamos falar de uma especialidade atual chamada de “Medicina Ortomolecular”. Apesar do Conselho Federal de Medicina considerá-la apenas uma estratégia terapêutica, uma espécie de medicina ambientalista que visa restaurar o equilíbrio entre o homem e a natureza. A ortomolecular é uma prática médica que tem como foco a aplicação bioquímica à nutrição humana e com isso restabelecer o equilíbrio do organismo. Para se conservar uma “saúde ótima” não basta tratar alguma enfermidade. É necessário também, ajustar e otimizar as substâncias que o organismo precisa. Por isso temos de ter noção de como são assimilados os nutrientes necessários à vida – os aminoácidos, ácidos graxos, vitaminas, sais minerais, que compõem os alimentos. Saber como são metabolizados ou transformados quimicamente para a absorção celular. Estudar as carências químicas do organismo, as desordens fisiológicas provocadas por elas e complementar o que falta. “Mens sana in corpore sano” eis a mensagem grega.
A escritora Jean Carper no seu livro “Seu Cérebro Milagroso” (1) nos mostra em detalhes o significado da química molecular e como podemos usar o alimento, vitaminas e nutrientes para maximizar a capacidade intelectual e criativa, prevenir e reverter o envelhecimento mental e físico, melhorar a memória e o humor e ainda evitar as doenças.
Mas antes, não deixa de estabelecer um marco histórico (2)a partir dos nossos ancestrais da Idade da Pedra típicos caçadores e coletoras que viviam da caça, das frutas e raízes durante cem mil gerações. A partir daí um outro acontecimento modificou o Planeta: uma Revolução Agrícola. Foi quando surge uma nova organização, governos estáveis e explosão de realizações humanas. O grande diferencial foi a introdução dos alimentos agrícolas, o cultivo de cereais, a criação de animais produtores de leite e ovos. Ou seja, dois grupos de alimentos: cereais- pães e grãos e laticínios somaram-se ao antigo alimento de frutas, vegetais, carnes e peixes. Essa introdução de alimentos estranhos no organismo fez o cérebro incorporar nutrientes que não faziam parte de sua genética e dessa forma acabou sofrendo uma mudança radical tanto em peso quanto em tamanho. Esse 2º padrão alimentar durou cerca de 500 gerações até a nova revolução industrial no século XX com o advento dos alimentos processados e os fast foods há cerca de 5 gerações. Não se sabe se o cérebro pode se adaptar a uma alimentação tão diferente sem perdas substanciais. Precisamos de mais algum tempo para avaliar as mudanças que irão ocorrer. Pari e passo ao conceito da importância e influência alimentar no ser humano, incorporamos novos conhecimentos. Hoje sabemos que o nosso organismo é vulnerável a ação oxidativa do oxigênio através dos chamados “radicais livres”. Antes de compreendermos sua ação oxidante temos de ter uma noção clara do que seja um radical livre e como ele se forma numa pura e simples inspiração de ar enquanto corremos ou comemos. Quimicamente, sempre que um átomo perde um elétron se transforma num radical livre. A molécula, antes neutra, se torna reativa e começa a buscar desvairadamente elétrons de outras moléculas que viram também radicais livres. Esse processo ocorre quase sempre em cadeia e com o perigo do descontrole, uma vez que a molécula mudou sua personalidade e funções originais. Como na teoria do caos o evento que detona a fabricação descontrolada dos radicais livres é aleatória e pode ser muito mais grave do que apresenta a exposição da tese uma vez que essa ocorrência eventual pode vir a ser o estopim de uma bomba que, uma vez deflagrada acione o dispositivo de doenças genéticas até então quietinhas no seu potencial de possível evento. Seria o caso do câncer, de doenças cardíacas, do Alzheimer e até mentais. Denham Harmann o chamado pai da descoberta dos efeitos deletérios dos radicais livres diz que eles são gerados durante a respiração ou ingestão de alimentos e viram subproduto do oxigênio, transformados em mísseis de destruição em massa (2).
A descoberta dos radicais veio acompanhada do estudo aprofundado das substâncias antioxidantes não só para servir de barreira ao seu enorme poder destrutivo como na cura e prevenção das doenças já surgidas. Se já é consenso na medicina e não mais se discute o poder deletério dos radicais livres, entretanto, sem querer voltar atrás ou complicar, temos de apontar a importância crucial deles no sistema gastrintestinal. É lá onde acontece sua maior formação em todo o corpo. Só podemos entender essa ocorrência seguindo a trajetória do oxigênio ao chegar às células do organismo indo para as mitocôndrias onde sofre uma complexa série de reações químicas que formam energia até ser transformado em água que aliás ocupa 70% do nosso corpo. Uma parte pequena do oxigênio por incrível que pareça deixa de ser mocinho e se torna um vilão ao interferir no equilíbrio das moléculas travestido de radical livre. Essa lição temos que levar para a vida ao supor que tudo nela é coerente e sem contradições.
Produzimos radicais livres eis a questão! Tal como no equilíbrio climático onde temos de controlar a temperatura da Terra sob pena de desaparecermos do mapa, os radicais livres até um certo ponto tem a sua razão e necessidade de existir, mas, não pode passar do ponto. E temos essa prerrogativa de controlá-los? Claro que sim. Poderíamos recorrer a Jean Carper mas, como temos a nossa CLÁUDIA GUEDES vamos ver o que ela tem a nos dizer para que façamos a equação a nosso favor. O médico Hélion Póvoa também nos fornece muito conhecimento interessante (3) pág. 37. Ele diz que hospedamos uma quantidade fabulosa de bactérias, fungos e outros micro-organismos na chamada flora intestinal.
São 50 trilhões no corpo de um adulto desses micro-organismo aos quais estamos sempre expostos através da alimentação. Nosso sistema gástrico intestinal tem suas barreiras e as suas defesas. A própria saliva é uma delas. Nesse meio há de tudo inclusive uma luta acirrada para que o equilíbrio da flora intestinal prospere. Quero chamar atenção para o conceito moderno de que o intestino é o nosso 2º Cérebro e que muitas operações que delegávamos ao cérebro hoje corre por conta do intestino. Será que realmente pensamos com a barriga tanto quanto com o cérebro? Acho interessante discutir essa premissa. O problema da prisão de ventre adquire uma maior importância quando percebemos que essa disfunção da retenção de fezes no cólon vai facilitar a passagem de bactérias nocivas para o intestino delgado e com isso o desequilíbrio da flora intestinal e um outro processo chamado disbiose que pode gerar insuficiência pancreática, diminuição da função biliar, deficiência de ácido clorídrico e motilidade intestinal. O intestino é também responsável pela formação de serotonina e de outros neurotransmissores. Nossa alimentação de hoje não é mais saudável tanto de origem animal como vegetal recebem tratamento químicos os conhecidos agrotóxicos, além de hormonal e, não contam mais com um solo rico em minerais importantes para a nossa saúde como o zinco. E é justamente o Zinco o minério chave para a produção da serotonina. Sem o Zinco estamos sujeitos ao estresse biológico e até ao interpessoal, provocado pelos desencontros nas relações amorosas, afetivas e profissionais e o estresse psíquico provocado pelas carências econômicas-financeiras e socioculturais dos povos do 3º Mundo. Além do Zinco não podemos deixar de mencionar o cromo e o magnésio.
Como tudo na vida é sistêmico entre os radicais livres e os antioxidantes o enfrentamento é permanente com as perdas e ganhos inexoráveis. Se os radicais livres assumem o comando, o desequilíbrio acontece e é conhecido como “estresse oxidante” com graves consequências para o organismo. Há um vazamento nas membranas das células, o encolhimento de suas conexões neurais os dendritos e sinapses até um esgotamento tal de energia capaz de levá-la à morte. Nesse embate o Cérebro é um dos mais vulneráveis. Permitir que o quadro evolua para a vitória dos radicais é colocar em risco a própria vida. Um olhar otimista, entretanto, nos informa que os antioxidantes não são individualistas, pelo contrário, eles agem em conjunto e se coordenam como equipe numa forma inteligente de sobrevivência. O professor Lester Packer (4) de biologia molecular e celular da Universidade de Berkeley na Califórnia adotou o conceito de “rede de antioxidantes” e isso gerou uma revolução no conceito da luta. Aliás a dinâmica desse embate é reveladora e enriquecedora para o nosso conceito de vida. O antioxidante desarma o radical livre fundindo-se com ele ao doar-lhe um elétron. E então é ele que se torna instável substituindo o agora antigo radical. Nessa rede do bem o prof. cita os campeões capazes de ressuscitar os mortos. São eles: Vitamina E, Vitamina C, Glutationa, Coenzima Q10 e Ácido Lipóico. Vou falar dos 3 últimos porque são menos conhecidos. O ÁCIDO LIPÓICO está em 1º lugar entre os super antioxidantes – Um incrível protetor do cérebro e pesquisado pelo Dr. Parker que o qualifica como o antioxidante dos antioxidantes, ou seja, o “ideal” por ser versátil e poderoso. Diversas coisas o tornam singular e universal: é uma molécula pequena e daí capaz de penetrar na barreira hematoencefálica e ser absorvida rapidamente pelo tecido cerebral ajudando a resgatar de pronto as células cerebrais sob ataque. E mais, tem uma estrutura química singular solúvel tanto em gordura quanto em água. É capaz de se reciclar ou se regenerar tão bem como os outros 4 já citados e por fim, ele é o único capaz de se reinventar como tal, após se exaurir na batalha contra os radicais.
Coenzima Q 10 – poderoso energizante essencial para estimular, rejuvenescer e proteger o cérebro contra o envelhecimento normal e as doenças cerebrais. Se o seu nível está baixo nas células cerebrais a produção de energia nas pequenas fornalhas dos neurônios das mitocôndrias diminui, gerando crise de energia e disfunção, isso sem falar na intensificação dos ataques furiosos das hordas de radicais para tornar rançosa a gordura das membranas das células colocando a sobrevivência da mesma em risco. Consequências possíveis: erosão da integridade cerebral, declínio intelectual, perda de memória, distúrbios motores e doenças degenerativas como Alzheimer, Parkison, Lou Gehrig também conhecida como ELA.É um membro da força de elite dos 5 e atua em conjunto com a Vitamina A. O dano mais temível do ataque chama-se “peroxidação lipídica”. E isso foi só uma pequena apresentação.
O Milagre da GLUTATIONA – Associada ao ácido lipóico torna-se um importante oxidante. Apesar de ser sintetizado pelo organismo é extremamente difícil elevar o seu nível nas células cerebrais a não ser que se tome ao mesmo tempo o ácido lipóico uma vez que a sua molécula sendo pequena consegue atravessar a barreira hematoencefálica. Daí vamos dar mais um ponto para esse ácido. A Glutationa desintoxica o organismo e é chamada até de “antioxidante-mestre.” Pessoas com alto nível da substância permanecem mais jovens em todos os sentidos enquanto baixos níveis prognosticam doenças crônicas e inclusive cerebrais degenerativas e mortes prematuras.
(1) Jean Carper – “Seu Cérebro Milagroso”- pág. 47 – Ed Campus – Ano 2000; (2) IBID – Jean Carper – pág. 28 Citra Denham Harman – Professor emérito da Universidade de Nebrasca e pai da teoria do envelhecimento provocado pelos radicais livres; (3) Hélion Póvoa – “O Cérebro Desconhecido”- pág. 39 – Ed. Objetiva – Ano 2000; (4) Jean Carper, ibid – Cita o Professor Lester Parker da Universidade de Berkeley – Pag. 135; (5) Jean Carper – IBID – págs. 223/224/225/227.
Niterói, 29 de agosto de 2023.
Helena Reis
Observações: Dado a importância do tema, continuaremos as entrevistas e a apresentação de textos. O próximo será a Medicina Antiaging.
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