O Programa Falou e Disse recebe Luiz Gonzaga Belluzzo.
Nosso entrevistado Luiz Gonzaga Belluzzo brilhante economista um dos responsáveis pela implantação da UNICAMP – Universidade de Campinas. além de ser formado em direito (1965) pela U.S.P.; Ciências Sociais pela mesma Universidade; pós-graduação em Desenvolvimento Econômico pela CEPAL e doutorado em 1975 pela UNICAMP. Autor de uma infinidade de Livros como: Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo (2017) em parceria com Gabriel Galípolo; Nos Tempos de Keynes (2016); O Capital e suas metamorfoses (Unesp 2013); Os antecedentes da Tormenta: Origem da crise global (Fecamp/2009); Ensaios do Capitalismo no século XX – S.P. Unesp, 2004; Depois da Queda – em parceria com Júlio Gomes – Civilização Brasileira 2002; Temporalidade da Riqueza – Teoria da Dinâmica e Financeirização do Capitalismo (Unicamp 2000); Crise e Reforma Monetária no Brasil – São Paulo em perspectiva (1990).
Sua presença em nosso programa para nos falar de Maria da Conceição Tavares deve-se não apenas ao fato de terem sido colegas de profissão, mas, principalmente por manterem uma amizade de muitos e muitos anos, onde um frequentava a casa do outro, mantendo diálogos sobre a conjuntura econômico-financeira local ou internacional. Podemos imaginar como as discussões eram super, ultra acaloradas pela paixão que ambos nutriam pelo Brasil e o desejo de vê-lo como o exemplo no dizer de Conceição de uma democracia e civilização das mais originais dos Trópicos.
Essa luso brasileira de coração começa suas vivências políticas praticamente desde a infância, durante a ditadura de Salazar, na década de 30, quando as famílias eram oprimidas pelo medo. Qualquer manifestação era feita em voz baixa, um mero cochicho, evitando serem ouvidas e acusadas de oposição ao regime. Seus pais em sua casa em Lisboa já muito antes, recebiam refugiados da Guerra Civil Espanhola. Estudou matemática na Universidade de Lisboa e se casou durante o Curso tendo sua filha a Laura neste período. O 2º filho já nasce em nosso país. Fugindo do regime de opressão chega ao Brasil em 1954 no mês de fevereiro em pleno carnaval, pouco tempo antes do suicídio de Getúlio Vargas nesse mesmo ano. Resolveu mudar de profissão e inicia seus estudos de Economia na UFRJ em 1957, época em que obteve a cidadania brasileira. Graduou-se em 1960 com louvores! Neste período trabalhou no Incra e após o BNDE. No Governo de Juscelino colaborou no Conselho de Políticas Econômicas e prestou ajuda na execução do plano de Metas de JK. Em uma das suas primeiras aferições sobre as estatísticas brasileiras e um estudo matemático sobre a distribuição de renda no Brasil ficou estarrecida com o que os dados revelaram apontando a concentração de renda e de terras e a miséria reinante num país aparentemente generoso. Daí dizer: “Deparei-me com as estatísticas. Esse país é uma desigualdade só… Compreendi então as dificuldades das tentativas de construção de uma democracia nos trópicos. Não dá para pensar o país com as categorias europeias. O Brasil não pode suportar teses progressistas definitivas, é sempre recorrente: quando se pensa que uma coisa acabou, ela volta”.
É considerada como a mais brilhante economista brasileira.
Ainda na ditadura em outubro de 1968 foi designada para o escritório da CEPAL no Chile, e lá foi também convidada a lecionar na Escolatina ligada à Universidade do Chile. Esse período fora do Brasil evitou com certeza que Conceição Tavares viesse a sofrer qualquer sanção ou enquadramento pelo AI5.
Numa época em que a grande maioria do povo e das mulheres mesmo as acadêmicas não se interessavam pela Economia, Maria da Conceição com toda a força e coragem deu início a uma trajetória e aparição pública inigualável, botando prá quebrar, arrombando portas e dizendo a que veio. Com voz de trovão, ora sarcástica ou indignada, começa a desconstruir falsas verdades, crenças arraigadas, através de explicações claras, coerentes e objetivas. Suas frases se tornaram famosas e citadas em muitos lugares. Passou a ser vista na Televisão em programas na Tv Globo ou no Roda Viva. É cientista rigorosa, de sólida formação intelectual e foi professora de várias gerações de economistas tanto no Instituto de Economia em Campinas (UNICAMP) quanto na Economia da (UFRJ).
Na política, esteve sempre junto às causas populares referendando as forças progressistas. Foi a grande apoiadora de Ulysses Guimarães e participou da elaboração do histórico documento feito em 1982 “Esperança e Mudança” e no Movimento das “Diretas Já”. Fez parte também do Plano Cruzado em 1986.
Como professora produziu muitos textos interessantes que se tornaram clássicos. De forma incisiva faz a reflexão sobre os dilemas e contradições do nosso desenvolvimento tardio e periférico e começa a desvendar as complexas conexões entre a força do dólar com a queda do padrão ouro e diretamente responsável pelo predomínio da política americana através de órgãos como o FMI e da nossa dificuldade posterior em reagir à implantação do neoliberalismo durante o Governo do FHC nos anos de 1990. Nessa época filia-se ao PT e se candidata à Deputada Federal e na tribuna em Brasília resiste aos retrocessos que ameaçam o desenvolvimento do Brasil e suas estruturas de Estado através da imposição de uma disciplina fiscal com o estabelecimento de um teto de gastos públicos somado à outras medidas como a privatização dos Serviços Públicos e de Empresas fundamentais à nossa autonomia e hegemonia como Nação a exemplo da Vale do Rio Doce. O Estado Brasileiro sempre liderou a construção industrial do país. Com o processo de privatização, cumprindo à risca as orientações do FMI foi privatizado além do setor de mineração, a telefonia, ferrovias, setor elétrico, comunicações, petroquímicos, fertilizantes e Bancos Estaduais.
Então, Maria da Conceição Tavares é conhecida como desenvolvimentista, marxista, Cepalina, Keynesiana. Já foi até chamada de “maluca de esquerda”, “boca e rota”, e outras coisitas mais…
VEJAMOS AS FRASES:
01 – “Estamos lutando apenas para não ficar malucos.”
02 – “A Imprensa tem uma responsabilidade central. Não pode desinformar! Não pode ser apaziguada do poder.”
03 – “Não tem vitórias permanentes, nem derrotas permanentes.”
04 – “Acreditei que o Brasil ia ser uma democracia e uma civilização original nos Trópicos. E eu realmente acreditei!”
05 – “Ninguém come PIB, come alimento!”
06 – “Desenvolveu-se o mercado interno para a classe média. A incorporação da massa de pobreza ao consumo é um fenômeno muito recente!”
07 – “Espero morrer feliz por ser brasileira. E infeliz por ser europeia!”
08 – “Se miséria, pobreza e desemprego fossem fatores de competitividade a África seria o Continente mais competitivo!”
09 – “Dizem que as mulheres devem ir ao Poder. Eu quero o Banco Central, a chave do cofre!”
10 – “Em país Continental é muito difícil que as alianças se façam única e exclusivamente por recortes de classes. Porque as frações regionais da burguesia têm especificado que sem a soldagem dos seus interesses é difícil administrar um espaço continental!”
11 – “A classe média’’ que é o fundamento da sociedade moderna é uma classe invejosa por natureza: ‘- tudo bem a desgraça humana, a miséria, desde que não venham me encher o saco e pôr em risco a minha vida e a minha propriedade’.”
12 – “Uma economia que não se preocupa com justiça social é uma economia que condena os pobres a isto que está acontecendo no mundo: uma brutal concentração de renda, de riqueza, de desemprego e de miséria… Uma economia que diz que primeiro tem de estabilizar, depois de crescer, e só depois distribuir. É uma falácia. Não estabiliza, cresce aos solavancos e nada distribui. E essa é a estória da economia brasileira.”
PRÊMIOS, DISTINÇÕES E TÍTULOS:
• Prêmio Visconde de Cairu, UFRJ, 1960
• Medalha de Honra da Inconfidência, Governo de Minas Gerais /abril-1986
• Grau de oficial da Ordem de Rio Branco – Ministério de Relações Exteriores /maio-1986
• Grau de Comendador do Governo de Portugal – 1987
• Ordem do Mérito do Trabalho- M. do Trabalho – 1987
• Professora Emérita UFRJ / 1993
• Medalha Bernardo O’ Higgins da República do Chile / 1998
• Prêmio Almirante Álvaro Alberto para a Ciência e Tecnologia / 2012
LIVROS PUBLICADOS:
• Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro, Zahar, RJ / 1972 – 12 edições (2 estrangeiras)
• Acumulação de Capital e Industrialização no Brasil. (1975 e 1986)
• Ciclo e Crise: O movimento recente da economia brasileira UFRJ /1979
• A economia política da crise. /1982 – 5 edições
• O grande salto para o caos. Colaboração: José Carlos de Assis, RJ /1985
• Aquarella Colorida – A Política Econômica do Governo Collor /1991
• (Des) ajuste global e modernização conservadora participação José Luís Fiuori / 1993
• Lições contemporâneas de uma economista popular / 1994
• Poder e Dinheiro com José Luís Fiori / 1997
• Estados e Moedas no Desenvolvimento das Nações com José Luís Fiori.
• Uma reflexão sobre a natureza da inflação contemporânea com Luiz Gonzaga Belluzzo – In: Rego, José Márcio (org.).
Entrevistas, artigos e ensaios publicados sobre a Vida e Obra de Conceição Tavares veja em: http://www.interpretesdobrasil.org/sitePage/231.av
Niterói, 1º de julho de 2024.
Helena Reis