O Programa Falou e Disse recebe Guilherme Estrella.
A descoberta do pré-sal no Brasil na 1ª década do século XXI é um marco na história da Petrobras que não mediu esforços em aprofundar estudos e investigações em camadas geológicas em águas ultra profundas da nossa costa marítima, pressupondo que ali existissem reservas importantes de petróleo e gás natural. A notícia veio à público em 2007 quando a hipótese virou realidade e abaixo da espessa camada de sal tanto do litoral da bacia de Campos (RJ) quanto da bacia de Santos (SP)e do (Espírito Santo) o ouro negro lá se encontrava à espera de uma tecnologia muito avançada para ganhar a luz do dia. Sim porque não podemos minimizar o nosso “know-how” em explorar áreas não só profundas como impensadas por outras empresas do mundo inteiro nesse ramo mas, que exigiram novas estratégias e investimento em equipamentos de perfuração. Em suma um processo que começou há 100 milhões de anos aproximadamente e é responsável por abrir caminhos ao país para uma nova era e novas possibilidades de se exercer como nação Soberana e rica em recursos naturais.
Temos entretanto, de enfatizar a importância de uma Empresa Estatal em oposição as ideias da era FHC que implanta o neoliberalismo no Brasil e insiste em minimizar e querer jogar nossas Empresas Públicas nas mãos da iniciativa privada a exemplo da privatização da Vale do Rio Doce e o pior, dando preferência às multinacionais, e no item petróleo pretendeu mudar o nome de Petrobrás para Petrobrax e como se não bastasse, consegue em 1997 concretizar a quebra do monopólio da Cia transformando-a em Empresa de Economia Mista onde o Estado apesar de deter 51% das ações fica em muitos momentos praticamente refém dos acionistas e isso sem falar da perda do domínio da exploração do pré-sal pela Empresa que investiu maciçamente e com grande risco durante a fase de pesquisa e descoberta e nos dias de hoje ainda tem de enfrentar a concorrência desleal de Cias que se recusaram a correr risco durante a exploração e que hoje jogam pesado durante os Leilões querendo abocanhar a melhor parte.
A Petrobrás desde os seus primórdios surge como uma prerrogativa da nação brasileira de finalmente dizer a que veio, interrompendo um ciclo de dependência colonial com tendência a passar de mão em mão substituindo portugueses por ingleses e no presente século por seus herdeiros americanos. Na década de 80 a Petrobrás se antecipa ao processo de esgotamento das suas fontes usuais de exploração do produto, começa a vislumbrar outras possibilidades e se envereda na pesquisa de novas fontes de petróleo ainda não cogitadas. Na verdade, o pré-sal significou muito mais do que isso, ele é produto da construção de um sistema industrial em consonância com um projeto de país. E a Petrobrás teve grande ousadia e coragem de virar a mesa mesmo sabendo dos percalços que iria enfrentar. Assumiu a liderança e suportou os riscos associados à perfuração de poços ultra profundos através de tecnologias desafiadoras e envolvendo altíssimos investimentos. A forma sábia que delineou seus caminhos foi investir à priori no preparo dos seus quadros técnicos tendo a independência e competência necessária para avaliar trajetórias seguras sem estar à mercê de pareceres profissionais de estrangeiros com interesses espúrios e visivelmente predatórios em relação ao país. Um dos primeiros passos foi a criação do Centro de Pesquisa (CENPES) por Leopoldo Américo Miguez de Mello fazendo um elo entre as necessidades industriais e a Universidade. A descoberta do pré-sal colocou a Petrobrás em uma posição estratégica em relação às principais produtoras de petróleo reconhecidas internacionalmente.
Nesse contexto surge a figura do geólogo Guilherme Estrella formado em 1964 pela Escola Nacional de Geologia atualmente UFRJ. No ano seguinte já ingressa na Petrobrás e seu histórico profissional se mescla à própria história da Empresa numa relação de intensa paixão. Ele reconhece que a Petrobrás desde a sua origem quis e conseguiu preparar uma equipe de qualidade ímpar difícil de ser encontrada até em outros países. São suas essas palavras: “Enfrentamos o Pré-Sal como uma Empresa Estatal, compreendendo sua função de ferramenta do Estado brasileiro, importantíssima na condução de um processo de desenvolvimento nacional.”
Em 2003 quando Lula assume a Presidência do país ele sinaliza para a Petrobrás que esta assuma o seu protagonismo no setor de petróleo e gás natural no Brasil. Neste período houve a perfuração inédita de 2000 metros de sal.
É preciso então reconhecer a visão presidencial e não nos esquecer que 3 anos depois os resultados afloraram. No ano seguinte- 2007 com a confirmação da descoberta, vários problemas a nível internacional começam a vir à tona. Um deles se refere a criação de regras do Pré-Sal onde se inclui a Petrobrás como sua operadora única. O Congresso aprovou essas regras e inclusive a condição da Petro como única operadora. Nessa ocasião o Senador José Serra apresenta um Projeto contrário e principalmente restringindo a prerrogativa da Petrobrás como operadora única. É importante que fique claro o significado dessa função. É o operador quem decide qual a tecnologia a ser usada na construção de poços e de produção de óleo e gás. Não podemos nos esquecer que o pré-sal se encontra a mais de 2000 m de profundidade. É a última fronteira geológica disponível para a produção do combustível. Cabe a Empresa que opera, definir desde a engenharia de projetos e de operações dos grandes sistemas de produção submarina além de todo o trabalho no fundo do mar incluindo a coleta e o transporte até as unidades flutuantes, plataformas ou navios. Em resumo, são tantas dimensões importantes envolvendo questões de segurança e de conhecimento e mais à frente envolvendo novos mercados. Ou seja, o operador passa a ter um poder nas mãos que o país não vai querer dar de bandeja. O Congresso, entretanto, resistiu às pressões e garantiu à PETROBRÁS condições de realizar um desenvolvimento científico – tecnológico com autonomia e em consonância com os interesses nacionais e da população. Logo logo o Brasil passou na prova produzindo num curto espaço de tempo 1,2 milhões de barris diários que se revelou recorde significando quase a metade da produção nacional.
À época da descoberta do pré-sal o mundo passava por um cenário avassalador. O Iraque havia sido invadido e destruído pelos EE UU. Por trás das causas a mais grave era justamente e cada vez maior a dependência energética da Europa do petróleo e gás da Rússia e dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio. Nesse momento tenso envolvendo as nações líderes ocidentais com possibilidade de eclosão de uma guerra, o Brasil tinha o ar de país fora da ordem e da órbita, protegido pelos deuses ao se tornar a maior província petrolífera descoberta nos últimos 50 anos no Planeta. Foi quase uma ofensa a merecer um castigo exemplar. E foi aí que a vaca vai pro brejo e o Brasil começa a receber pressões de fora. De que tipo perguntaríamos? Até então o sistema vigente era o da concessão e era urgente que fosse substituído pelo sistema de partilha pois caso contrário o Brasil acabaria não recebendo as recompensas da sua nova descoberta. Na realidade o regime de concessão apresenta a desvantagem do risco pois não se sabe o que vai encontrar após a perfuração. A compensação é quando encontra o que procura pode abocanhar a propriedade integral da área. No caso de um local com risco zero o regime de concessão também deixava de ser interessante. Havia um impasse e temor ao mesmo tempo de ambos os lados uma vez que a legislação não deixava bem claro os riscos de cada um. Na verdade, tratava-se de uma mudança de enorme significado geopolítico e com uma abrangência mundial. Basta dizer que no pós descoberta tornada pública em 2007, a quarta frota da Marinha americana de Guerra foi reativada e deslocada para o Atlântico Sul, um claro sinal de que a Nação Hegemônica americana tinha colocado o Brasil e sua incrível descoberta entre suas novas prerrogativas estratégicas.
Hoje já fazemos 17 anos de pré-sal. O que aconteceu neste período? Vamos investigar bastante durante a entrevista com o Estrella
Após a entrevista, completaremos a edição desse artigo fazendo um resumo do que foi tratado pelo nosso eterno defensor do pré-sal e suas conquistas!
Niterói, 28 de julho de 2024
Helena Reis